O propalado encontro entre os dirigentes maiores de PSB e PT
para discutir a aliança para as eleições municipais não passa de uma trampa
para apanhar tolos. Colocar Raimundo Ângelo e Karlos Kardozo para conversar é a
mesma coisa que nada. Só a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (presidente do
PT-CE) e governador Cid Gomes (presidente do PSB-CE) têm a palavra final. Os
dois vêm em queda de braço desde o início do ano. O clã Gomes aplica a mesma
estratégia que serviu para fazer a defenestração de Tasso Jereissati na
campanha passada, quando as duas partes saíram beneficiadas. O clã Gomes se livrou
de um aliado espaçoso e Luizianne de um adversário irritante, ainda que tenha
dele recebido ajuda (até em dinheiro) na primeira eleição à Prefeitura. O
resumo da trama foi a eleição do lúbrico José Pimentel a senador.
Agora, o enredo se repete. Cid, o Gomes governador, empurra
a decisão com a barriga, enquanto Ciro (o sem emprego e mais velho do clã) e
Ivo (o Gomes mais airoso, mas não menos mordaz) detonam a aliança, na defesa de
um candidato próprio, que não têm. A prefeita Luizianne, esperta no jogo
político, aceita o jogo cênico em busca de encontrar uma fresta vantajosa como
aconteceu no caso Pimentel. Sabem os litigantes que romper a aliança abre
enorme espaço para a trôpega oposição. A negociação é complicada pois existiam
quatro pontas maiores - PT, PSB, PMDB e PCdoB. Uma (PCdoB), já caiu fora, pois
com mais de 30% nas prematuras e , portanto, imprecisas pesquisas, o inepto senador
Inácio Arruda não vai deixar de ser candidato, principalmente porque sem forças
para renovar seu mandato terminativo. Restam três vorazes pontas, com
interesses futuros que se imbricam.
O clã Gomes não quer -e não pode- ficar sem uma generosa
fatia de poder (a partir de 2014). Luizianne, ainda que rejeite qualquer
comparação com Maria Luíza Fontenelle, por isso mesmo não quer cair no
ostracismo dos sem mandatos. O direito do cabeça de chapa é do PT e disso ele
não vai pedir arrego, porque precisa, principalmente, que a campanha seja disputada
tendo como principal conteúdo o trabalho realizado por ela em Fortaleza. Quer o
reconhecimento que Maria Luíza, apesar de merecer, não teve. Ainda há o PMDB do
anho senador Eunício Oliveira, que sonha em ser governador do Ceará. E como
está iniciando seu mandato de senador, terá dois pleitos para conseguir seu
desiderato, por mais que seja um pesadelo para os cearenses. Os três partidos
têm o maior tempo de TV e a maior estrutura partidária, o que, juntos, lhes
confere um enorme vantagem eleitoral. Eunício já escolheu o seu lado preferencial,
o PSB. E de lá que vai surgir a vaga que ele quer. Aqui dorme o conflito: em 2014
só há duas vagas interessantes para os três - uma de senador e a de governador.
Um vai sobrar. Cid quer a de senador e Eunício o lugar de Cid. Luizianne não
fala, mas está livre para qualquer uma das duas. Acordo difícil e, qualquer que
seja o resultado final, muito difícil também para o Ceará.
A oposição torce por uma quebra, mas não se prepara. Não dá para viver do espólio decrescente de Tasso Jereissati. Teremos este ano uma eleição de nanicos eleitorais. Tanto PT, como PSB e até a oposição não têm nomes de envergadura. E quem ousar colocar a cabaça para fora da toca se arrisca a vê-la decepada, pois nenhum dos três admitem que apareça uma nova tendência.