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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Hora do Desespero, A Má Conselheira

Tenho pavor a história do “eu não disse”, mas não havia como errar. Em comentário anterior falei que o canhão da TV nunca apareceu tão sem forças para suscetibilizar mudanças. É fato, agora mais que antes. Não adianta contestar dados de pesquisa. São fatos momentâneos que precisam ser levados em consideração, atentando para a leitura de todos os números. A TV, inaugurado o horário dito gratuito do TRE, passou a distribuir informações de que estava em curso uma campanha e a mostrar os candidatos. A partir daquele momento começou a ser despertada uma intenção de voto, uma vez que o eleitor conhece a obrigatoriedade de ir às urnas.

Abre-se o eleitor para receber os insumos (“inputs”) necessários à sua decisão, que é tomada imediatamente e pode flutuar no decorrer da campanha. A cristalização do voto só vem (em parcela ponderável, principalmente entre aqueles não envolvidos partidariamente) na reta final do processo. No tempo do ultrapassado Mauro Benevides, a opinião era feita pelos meios de comunicação massivos e por grupos (no qual ele se incluía) de formadores de opinião. Ele desembarcava no aeroporto, soltava uma informação -e anexava sua opinião sobre o assunto-, colhida diligentemente pelos repórteres de plantão, e ia para casa se balançar em sua rede. Hoje não é mais só assim. A opinião não vem mais em cascata, de cima para baixo (na pirâmide social), como já contestava no início do século passado o sociólogo francês Gabriel Tarde. O eleitor bebe em diversas fontes, inclusive –e mais importantes- as do seu meio, até formar sua opinião. A TV pode formar ou não uma opinião, pois divulga opinião formada. Se houver sintonia, a repetição pode consolidar uma opinião.

PROGRAMAS INOPERANTES

Na campanha presidencial, como na campanha para governador do Ceará, os “inputs” produzidos pela oposição passaram longe de qualquer sintonia com o eleitor. O que ele esperava, levando em consideração o universo de insumos consumidos -e aí leva vantagem quem tem trabalho anterior, casos de Dilma e Cid F. Gomes-, era que a oposição aparecesse com um contraditório convincente. O que viu, no entanto, foi todo mundo querendo o manto de Lula, ou escondendo que integrava um time de oposição a Lula. Na TV e nas peças impressas, as fotografias de Lula e Dilma são disputadas no tabefe. Este é o resultado. Ora, se todo mundo quer ser do time de Lula ou continuar o que ele tem feito, por que mudar?

O candidato tucano José Serra faz um programa que deixa a sensação de “déjà vu” e ainda não teve a coragem de ser realmente de oposição com aquela história, no jingle, de “depois de Lula é o Zé”. Ele poupa Lula, dizendo que tudo bem, mas que o Brasil pode mais, e tenta aparecer como mais competente e preparado do que Dilma. Não é suficiente para o eleitor, que até pode concordar, mas entende que Dilma já está lá e tem Lula ao lado dela.

No Ceará, a oposição envergonhada, não acertou, nem na forma e tampouco no conteúdo, o programa de TV. Lúcio Alcântara, sobejamente conhecido do eleitor, diz que tem apoio de Lula e Dilma, que já escolheram Cid F. Gomes como preferido. Faz propostas iguais e algumas críticas rançosas. Caiu.

Marcos Cals não tem coragem de assumir José Serra e faz críticas frouxas ao candidato/governador, em um programa e comerciais ruins. Fala como um matuto estranhando a cidade, sem convicção e identidade. Enganchou a marcha na ladeira. Resultado: última pesquisa Datafolha: Cid F. Gomes saltou de 47 para 53%, Lúcio caiu de 24 para 19 e Cals foi de 7 para 9%.

O Brasil, quase todo, tem como favoritos candidatos apoiados por Lula, abrigados em diversas legendas (que nada significam). As exceções que confirmam a regra só pontuam em alguns estados: Rio Grande do Norte (Rosalba-DEM), São Paulo (Alckmin-PSDB), Minas Gerais (reação de Anastasia-PSDB), Amazonas (Omar Aziz-PMN), Distrito Federal (Roriz-PSC) e Paraná (Beto Richa-PSDB). Em alguns estados, dois candidatos disputam mendigando o apoio de Lula, como o Ceará.

BUSCAR O SEGUNDO TURNO

Que o quadro é plenamente favorável a Dilma e Cid F. Gomes, está claro. E a própria pesquisa dá sua contribuição. Não deve ser motivo, porém, para baixar as armas. Há, como disse acima, um aquecimento da intenção espontânea de voto, mas não significa, ainda, cristalização da decisão de voto. Campanha de um só lado não é bom para ninguém. Nem para quem está em vantagem isolada. A desmobilização é uma armadilha. Na campanha presidencial, Serra deve buscar uma aliança com Marina, estagnada nos seus 9% e assumir-se como oposição, pedindo que o eleitor reflita e deixe sua decisão para o segundo turno. É fazer o que Alckmin fez na campanha passada ou seguir o exemplo da recente campanha chilena (candidato de Bachelet perdeu e ela tinha popularidade maior que Lula). Ou seja, sair do tubo bem com o Lula e passar a ser realmente oposição e defender que o Brasil crescerá mais com a mudança. Mesmo caminho devem tomar as oposições no Ceará. Dizer que o programa está com baixa audiência é discurso velho. A audiência está diluída entre as diversas mídias, inclusive a editorial e a pontual.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O Mundo do Feeling

A Primeira pesquisa registrada após as convenções, que legitimaram as candidaturas, deixou quase todo mundo satisfeito. Mas é apenas uma pesquisa de intenção de voto a pouco mais de 70 dias da ida às urnas. O modelo é só uma forma de manter as atenções e de oferecer uma panorâmica não muito diferente daquilo que tínhamos visto em pesquisa anteriores às convenções. É um retrato do ponto de partida, que já enganou muita gente. Para o eleitor, está de bom tamanho, pois não lhe cabe analisar desempenhos e possibilidades. Para os candidatos, não traz as respostas que são necessárias na posição de largada. O próprio governador/candidato, Cid F. Gomes, com toda estrutura e recursos que tem à sua diposição, solta uma frase que representa a inadequação das informações do eleitor que dispõe: "sinto que o clima não é de mudança, mas de continuidade". Feeling só rendeu mesmo para Morris Albert. Lembram dele? Uma campanha somente se assenta sobre sentimentos quando não tem meios para buscar a informação científica, com confiável nível de certeza. É certo que este é o "xis" da questão: clima de continuidade ou clima de mudança? Ademais de saber se é um ou o outro, ainda há que captar junto ao eleitor, neste momento sócio-político, o que ele entende por continuidade e/ou o que ele compreende por mudança. Não é tão simples quanto parece, não é mesmo?. Existe formato de pesquisa adequado para buscar tais informações, que chega ao conhecimento da motivação do eleitor. Faz parte do universo da Ciência Política. Um exemplo bem elementar: Serra, o candidato do PSDB-DEM, representa mudança ou continuidade? Lúcio Alcântara (PR-PPS) e Marcos Cals (PSDB-DEM) representam mudança ou contiuidade no Ceará? Mudança significa só a manutenção do mesmo governador ou eleger o aliado ou indicado(a) do governador ou presidente? Ou ainda, continuidade significa manter planos como o Bolsa Família e dar sequência as obras? Será que o eleitor ainda considera que o Bolsa Família pode ser tirado ou entende que o Bolsa Família está garantido e que agora é hora de querer mais? Os benefícios materiais não saciam os do homem: uma vez adquiridos, ele aspira valores mais altos, satifações... (Serge Tchakhotine). Se for assim, quem é melhor para fazer "esse mais"? Isso é continuidade ou mudança?