Tenho pavor a história do “eu não disse”, mas não havia como errar. Em comentário anterior falei que o canhão da TV nunca apareceu tão sem forças para suscetibilizar mudanças. É fato, agora mais que antes. Não adianta contestar dados de pesquisa. São fatos momentâneos que precisam ser levados em consideração, atentando para a leitura de todos os números. A TV, inaugurado o horário dito gratuito do TRE, passou a distribuir informações de que estava em curso uma campanha e a mostrar os candidatos. A partir daquele momento começou a ser despertada uma intenção de voto, uma vez que o eleitor conhece a obrigatoriedade de ir às urnas.
Abre-se o eleitor para receber os insumos (“inputs”) necessários à sua decisão, que é tomada imediatamente e pode flutuar no decorrer da campanha. A cristalização do voto só vem (em parcela ponderável, principalmente entre aqueles não envolvidos partidariamente) na reta final do processo. No tempo do ultrapassado Mauro Benevides, a opinião era feita pelos meios de comunicação massivos e por grupos (no qual ele se incluía) de formadores de opinião. Ele desembarcava no aeroporto, soltava uma informação -e anexava sua opinião sobre o assunto-, colhida diligentemente pelos repórteres de plantão, e ia para casa se balançar em sua rede. Hoje não é mais só assim. A opinião não vem mais em cascata, de cima para baixo (na pirâmide social), como já contestava no início do século passado o sociólogo francês Gabriel Tarde. O eleitor bebe em diversas fontes, inclusive –e mais importantes- as do seu meio, até formar sua opinião. A TV pode formar ou não uma opinião, pois divulga opinião formada. Se houver sintonia, a repetição pode consolidar uma opinião.
PROGRAMAS INOPERANTES
Na campanha presidencial, como na campanha para governador do Ceará, os “inputs” produzidos pela oposição passaram longe de qualquer sintonia com o eleitor. O que ele esperava, levando em consideração o universo de insumos consumidos -e aí leva vantagem quem tem trabalho anterior, casos de Dilma e Cid F. Gomes-, era que a oposição aparecesse com um contraditório convincente. O que viu, no entanto, foi todo mundo querendo o manto de Lula, ou escondendo que integrava um time de oposição a Lula. Na TV e nas peças impressas, as fotografias de Lula e Dilma são disputadas no tabefe. Este é o resultado. Ora, se todo mundo quer ser do time de Lula ou continuar o que ele tem feito, por que mudar?
O candidato tucano José Serra faz um programa que deixa a sensação de “déjà vu” e ainda não teve a coragem de ser realmente de oposição com aquela história, no jingle, de “depois de Lula é o Zé”. Ele poupa Lula, dizendo que tudo bem, mas que o Brasil pode mais, e tenta aparecer como mais competente e preparado do que Dilma. Não é suficiente para o eleitor, que até pode concordar, mas entende que Dilma já está lá e tem Lula ao lado dela.
No Ceará, a oposição envergonhada, não acertou, nem na forma e tampouco no conteúdo, o programa de TV. Lúcio Alcântara, sobejamente conhecido do eleitor, diz que tem apoio de Lula e Dilma, que já escolheram Cid F. Gomes como preferido. Faz propostas iguais e algumas críticas rançosas. Caiu.
Marcos Cals não tem coragem de assumir José Serra e faz críticas frouxas ao candidato/governador, em um programa e comerciais ruins. Fala como um matuto estranhando a cidade, sem convicção e identidade. Enganchou a marcha na ladeira. Resultado: última pesquisa Datafolha: Cid F. Gomes saltou de 47 para 53%, Lúcio caiu de 24 para 19 e Cals foi de 7 para 9%.
O Brasil, quase todo, tem como favoritos candidatos apoiados por Lula, abrigados em diversas legendas (que nada significam). As exceções que confirmam a regra só pontuam em alguns estados: Rio Grande do Norte (Rosalba-DEM), São Paulo (Alckmin-PSDB), Minas Gerais (reação de Anastasia-PSDB), Amazonas (Omar Aziz-PMN), Distrito Federal (Roriz-PSC) e Paraná (Beto Richa-PSDB). Em alguns estados, dois candidatos disputam mendigando o apoio de Lula, como o Ceará.
BUSCAR O SEGUNDO TURNO
Que o quadro é plenamente favorável a Dilma e Cid F. Gomes, está claro. E a própria pesquisa dá sua contribuição. Não deve ser motivo, porém, para baixar as armas. Há, como disse acima, um aquecimento da intenção espontânea de voto, mas não significa, ainda, cristalização da decisão de voto. Campanha de um só lado não é bom para ninguém. Nem para quem está em vantagem isolada. A desmobilização é uma armadilha. Na campanha presidencial, Serra deve buscar uma aliança com Marina, estagnada nos seus 9% e assumir-se como oposição, pedindo que o eleitor reflita e deixe sua decisão para o segundo turno. É fazer o que Alckmin fez na campanha passada ou seguir o exemplo da recente campanha chilena (candidato de Bachelet perdeu e ela tinha popularidade maior que Lula). Ou seja, sair do tubo bem com o Lula e passar a ser realmente oposição e defender que o Brasil crescerá mais com a mudança. Mesmo caminho devem tomar as oposições no Ceará. Dizer que o programa está com baixa audiência é discurso velho. A audiência está diluída entre as diversas mídias, inclusive a editorial e a pontual.
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