segunda-feira, 16 de agosto de 2010
O País Que Construímos Está Bom?
Temo, sinceramente, por minha segurança física e mental quando tenho, por obrigação social, de procurar uma repartição pública para conseguir qualquer documento ou outro serviço. Ainda bem que no Ceará, principalmente, porque governado por uma oligarquia prepotente, despótica, não pode ser implantada a pena de apedrejamento, como no Irã. O Brasil não adota a pena de morte e, como unidade da República Federativa Brasileira, lhe é interdito.
Já chego à repartição pública, principalmente o Detran da Santos Dumont, porque moro perto, de cabeça baixa, para não ferir os sentimentos dos soberanos servidores públicos. É a quarta vez que sou rechaçado arrogantemente no Detran da Santos Dumont (repito, para que todos decorem o local). Duas vezes, porque ousei argumentar que não tinha conta de luz ou de telefone em meu nome para comprovar endereço. Moro em um apartamento de minha mulher e as contas (telefone e energia) estão em nome dela. Ofereci declaração de IR, extrato de conta bancária, certidão de casamento e tudo o mais que poderia dispor constando meu endereço residencial, mas tudo que ouvi de volta foi um “te vira”. Nada disso (o que apresentei como alternativa) vale. A saída foi pagar um despachante e ele chegou com tudo transferido. Como pode?
Por “infelicidade” minha troquei o carro por um menos velho e tive outra vez que transferir o veículo. Fui outra vez ao Detran da Santos Dumont para realizar o serviço. Torci para que alguma coisa houvesse mudado. Foi outro grosseiro ricochete. Decidi baixar a cabeça e sair sem dar uma palavra. Outra vez, tive de pagar a um despachante. Dias depois, fui fazer a vistoria no carro no mesmo Detran da Santos Dumont. Fiquei pacientemente na fila. Depois, ao acessar a área de vistoria, esperei mais ainda enquanto o vistoriador merendava e escolhia o que queria almoçar. Normal, eram quase 10 horas. Quando a vistoria ia começar, minha mulher, que me acompanhava, viu uma moto cortar a fila e ser atendida na nossa frente. Ela reclamou e, com extrema má vontade, o servidor público explicou que a moto era de uma senhora de 62 anos, que tinha direito, portanto, a tratamento preferencial. O rapaz, de pouco mais de 20 anos que conduzia a moto, confirmou.
Resultado: o vistoriador circulou nosso carro por três vezes, de cara fechada, até dizer que os vidros do carro tinham uma película “reflexiva” e que teríamos de arrancá-la, se quiséssemos fazer a vistoria. Minha mulher tentou argumentar que a película era igual a dos outros carros que ali estavam sendo vistoriados, mas o bruto servidor público só retrucou, logo dando as costas, que “não estava nem aí”, pois para ele “era uma película reflexiva e pronto”. E acrescentou, em tom de ameaça: “É melhor a senhora não discutir comigo”. Fomos ao Detran ao lado do Iguatemi, pagamos um despachante, e duas horas depois estávamos com o carro vistoriado e transferido.
O Detran da Santos Dumont já é um caso especial. Ou eu me mudo ou vendo o carro. Não é diferente nas outras repartições, nos três níveis. Na Secretaria de Finanças do município petista, perde-se um dia para pagar um imposto ou um ITBI, se o servidor público não estiver de mal humor. Uma nota fiscal avulsa é uma via-crúcis. Um alvará de funcionamento só sai no jabá. E se o que você necessitar estiver na esfera do judiciário, é pior. Se for um caso que dê cadeia, talvez seja melhor puxar uma cana (permita-me a gíria) nesta época petista, em que a família do preso tem direito a um salário médio mensal de R$ 700,00. O que há afinal com o nosso serviço público? Será que a arrogância da oligarquia Gomes que tomou conta do Estado –e quer ficar por mais 4 anos, no mínimo, pois ainda existem dois irmãos e uma irmã na linha de sucessão- se espraiou por toda máquina pública do Estado. Nas repartições federais e municipais, há mais de 6 anos, passaram a atuar, pelo aparelhamento aplicado pelo PT (através da miríade de cargos de confiança), como se o órgão público fosse um curral particular, que massacra ou submete o animal que dele precisa.
Sei que a fila anda e já não tenho o mesmo poder de convencimento (não pago propina, a qualquer título) e a mesma paciência de alguns anos passados. Mas, entre viver brigando para ser cidadão pleno e me recolher a um mundo que pouco precise do poder público (incluindo o judicial), estou mergulhando cada dia mais na segunda opção. Faço qualquer negócio para não ter de recorrer ao poder público, embora contribua em dia com os escorchantes impostos cobrados. Só à saúde pago quatro vezes: ao antigo IPEC ou fundo de saúde, como servidor estadual; ao INSS, como empregador ou prestador de serviço; à Unimed, que hoje não passa de um INSS metido a besta, pois lá as filas de atendimento de especialistas dão meses de espera e até para tirar um sinal tem de ir pessoalmente solicitar; e, por fim, pago diretamente ao profissional de saúde quando quero ser atendido com brevidade, cuidado e mais lhaneza.
Sério, estou deveras preocupado. Depois de tudo, abro a TV ou pego um jornal para ver se identifico o que sinto em alguém, neste momento de campanha eleitoral, quando a crítica ao poder é mais farta, e o que vejo é mais decepcionante ainda. Vejo o candidato de oposição, José Serra, quase pedindo desculpas ao presidente Lula por ter de fazer algumas críticas ao Governo Federal e a candidata dele, Dilma Rousseff, como se Lula não fosse o pai do pecado. Logo em seguida, vejo no jornal O Povo (pag. 02, edição do dia 15/08/2010) o senador Tasso Jereissati, durante comício, se humilhando ao povo sobralense, berço da dinastia Gomes, pela ousadia de ter lançado a candidatura de Marcos Cals ao governo do Estado. Marcos Cals, coitado, parecia um alienígena no palanque. E no jornal de hoje, dia 16/08/2010, pag. 16, é mais desalentador. Jereissati parece ridículo pedindo respeito a Ciro F. Gomes, coordenador da campanha de reeleição do irmão, na tentativa de barrar a cooptação de prefeitos tucanos. O que há? Nos bastidores, todos comentam que o deputado paulista (com votos do Ceará), Ciro F. Gomes, só está cooptando o voto de governador. No mesmo jornal, página anterior, o candidato Lúcio Alcântara, que todos já conhecemos, faz uma crítica sobre o fracasso do Ronda. Alegro-me um pouco, mas minha alegria dura pouco. Logo em seguida, ele defende o diretor do DNIT, Guedes Neto, preso pela PF por suspeita de corrupção. Conforta-me, pelo menos, o fato de Lúcio ter tido a coragem de defender, em campanha, o diretor do DNIT, que foi uma indicação sua.
Estou fechando o jornal, contrito, quando vejo uma crítica. “Eu não estou contente com o ritmo das obras dos aeroportos. Acho que elas deveriam ser muito mais céleres”. Finalmente, pensei. É uma censura leve, mas serve. A surpresa veio em seguida. A crítica era da candidata Dilma Rousseff. Uma lástima. A oposição tem sido tão inerme que deixa seu espaço para a situação ocupar. Será que há remédio ou vamos continuar no calvário? Sinto tanto menoscabo e opressão do poder público que, às vezes, chego a pensar que tudo está funcionando muito bem e que sou eu quem está errado.
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