quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Guinada do Cenário Eleitoral


Agora, podemos dizer, temos um cenário eleitoral compatível com a história política do Ceará, sempre libertária e vanguardista. A tentativa oligarca de abafar de forma tirânica a democrática disputa esbarrou no seu próprio despotismo, provocando uma guinada inesperada na trajetória que se desenhava. Mesmo que nascido a fórceps, o novo quadro repõe o equilíbrio que lhe queriam subtrair. O Ceará terá um pleito disputado e com boas opções para o eleitorado. Pelos menos seis candidaturas, três delas fortemente competitivas, animará o processo. É comum as três campanhas a dificuldade de conseguir um vice (que nem deveria mais existir). Cid F. Gomes espera a indicação do nome pelo PT, enquanto Lúcio Alcântara e Marcos Cals (com a desistência de Paulo Oliveira) saem à caça. Correm também atrás do que sobra na chapa situacionista: tempo de TV e de rádio. O PSDB está em melhor situação, pois conta com o DEM e talvez o PPS. O PR trabalha para ficar com o PPS, embora sabendo da dificuldade (nacional), pois a chapa de Lúcio armará palanque para Dilma Rousseff e o PPS é Serra, como o PSDB e o DEM. A convenção do PR está marcada para terça-feira e a do PPS para quarta.

Cid F. Gomes continua favorito. Tem todos os astros alinhados em torno do seu nome, a máquina pública (federal, estadual e muncipal), o maior tempo de TV e rádio[1] e recursos ao alcance da mão. Os outros candidatos vivem os momentos difíceis de preparação da campanha, enquanto o candidato situacionista navega nas ondas da mídia do partido (PSB), do Governo e de aliados bajuladores, como Eunício Oliveira (PMDB). Vive e exercita, seguindo o exemplo do Governo Federal, aquilo que os especialias denominam de "efeito Mandrake", que ocorre em duas formas: 01) colocando o adversário na defensiva. A tentativa do dossiê contra Serra, por exemplo; 02) produzindo campos de enfrentamento que tiram o adversário do principal campo onde os votos são disputados, as ruas. Como disse com propriedade o ex-prefeito César Maia, em seus ex-blog, tudo o que quer o candidato situacianista é tirar seu adversário das "ruas" e retardar seu contato direto de mobilização nas bases dos multiplicadores e assim, dos eleitores. Para isso, os ambientes perfumados, engravatados, bem comportados são ideais para o candidato do governo se enfrentar com seu adversário. No outro dia, manchetes gloriosas sobre as ações do governo, sobre as obras em cada canto do Estado, sobre novas indústrias e geração de emprego, enquanto a tropa de “militantes” age nas "ruas" em defesa de sua cota de poder, cargos, recursos e empregos.


A NOVA OPINIÃO PÚBLICA DO CIDADÃO

Candidatos e coordenadores de campanha devem entender que uma campanha é como a lavoura. Deve ser semeada (candidato nas ruas, pedindo votos) e irrigada (difusão pela propaganda) e que a multiplicação que transforma intenção de voto em decisão de voto depende do adubo e de sementes de alta qualidade. Como disse Gaudêncio Torquato, é preciso lembrar que o caminho do voto começa no bolso, que supre o estômago. Depois o voto vai subindo e chega ao coração. Só por último, à cabeça. Lembro que certa vez o hoje deputado Ciro Gomes, na tentativa de se identificar com o eleitor (notadamente o mais pobre – maioria), começou a usar a lingagem dele. Ao dar uma entrevista sobre as causas de diarreia, preferiu usar a palavra caganeira, por entendê-la de uso mais comum no povão. Claro que não daria certo. Não é o “vamo-que-vamo” da Marina que produz a identidade de que tanto o presidente Lula usufrui. O publicitário ianque Malcolm MacDougall[2] escreveu que “... as pessoas são muito mais influenciadas por suas próprias impressões sobre as características pessoais do candidato do que o posicionamento dele em questões”.

Disse em ensaio anterior que campanhas políticas não se repetem. Podem até conter semelhanças, mas nunca são iguais. É um erro, portanto, intentar reproduzir campanhas vitoriosas. Campanha é um processo complexo, imprevisível e bastante não-científico[3]. Milhares de fatores convivem produzindo efeitos em uma campanha. Até hoje ninguém conseguiu fechar uma fórmula precisa sobre como fazer uma campanha vitoriosa e tampouco determinar uma idéia exata sobre qual evento, ou série de eventos, foi responsável pelo resultado de uma eleição. Pode ser o discurso do candidato, a situação da economia, um movimento social, um programa social (assistencialista, como o Bolsa Família), casos de corrupção ou o programa do candidato.

A forma foi sempre mais importante que a essência, o conteúdo, principalmente quando vivemos a horizontalidade tecnológica[4]. Ninguém nega o quanto o uso da Internet foi importante na campanha de Barack Obama. Ninguém nega também a crescente importância dessa nova mídia nas eleições. No Brasil não se encontrou ainda a forma mais adequada de chegar ao internauta, ainda que reconhecendo que o processo está em pleno desenvolvimento. O ex-blog de César Maia citou entrevista do professor Massimo Di Felice, coordenador do centro de pesquisa sobre opinião publica em contextos digitais da Eca-Usp no jornal Estado de SP (25/04/2010) sobre o tema. Destaca o professor que "a internet cria uma arquitetura informativa absolutamente distinta das anteriores e, mais do que isso, cria um novo tipo de democracia e um novo tipo de opinião pública. Até aqui é a democracia baseada na opinião. O cidadão é cidadão na medida em que ele opina de 4 em 4 anos”. A internet revoluciona essa lógica e inaugura um tipo de democracia qualitativamente diferente. A comunicação em rede é uma tecnologia que, pela primeira vez, disponibiliza não só o acesso a todas as informações, como também possibilita que cada indivíduo crie conteúdo e o distribua. A rede está criando, de fato, uma nova realidade em que as pessoas se afastam cada vez mais da política partidária, do debate político profissional, porque acham que isso não resolve nada. Agora são cidadãos o ano inteiro, não só a cada quatro anos. Para eles o voto é a última coisa na qual estão pensando.

É fato que a mídia Internet ainda não supera a mídia TV, até porque o processo de evolução não se há completado. Mas há ocorrido parcialmente, e não resta questionamento de que a comunicação das campanhas eleitorais neste ano deve mudar, em parte para atingir o eleitor. Será um erro confundir com "internetização" das campanhas, como estão fazendo, com resultado duvidoso quase todas as campanhas em curso. Será a uma simples repetição do sistema anterior de 'democracia opinativa'. O “xis” da questão será encontrar a melhor forma de atingir um eleitor que faz “política” no seu dia-a-dia e não diferencia, como diz César Maia, as campanhas eleitorais como um 'momentum' especial. Usar a internet como um veículo de comunicação unilateral -do candidato ao eleitor- é repetir o mesmo sistema anterior. É o professor De Felice que pergunta: “como atrair a atenção de um eleitor que passa pela eleição como rotina?” Como interagir na lógica do que o professor De Felice chama de 'democracia colaborativa'?

___________________________
[1] Este ano o tempo para governo é de 18 minutos, sendo que um terço (6 minutos) é divido igualmente por todos os candidatos (se forem 6, cada um terá um minuto). O tempo restante (12 minutos) é distribuído de acordo com a bancada federal dos partidos. Só juntam tempo os partidos coligados. O PR, para demonstrar, pode ter um minuto do tempo comum mais o tempo proporcional do partido e mais o tempo proporcional do PPS, se houver a coligação. Assim, o tempo de Lúcio, com PR e PPS ficaria em torno de 2m30s. PSDB e DEM teriam em torno de 4m30s e PSB-PT-PMDB-PC do B-PTB-PDT ficariam com mais ou menos 8m.

[2] Citado no livro Murro na cara, de Vitor Paolozzi.

[3] Do livro Murro na cara, de Vitor Paolozzi, pag. 12.

[4] Vale a pena repetir trecho de um texto que escrevi em ensaio anterior. “Andando pelo sertão queimado pelo sol causticante despertei para o intenso brilho do chapéu das parabólicas, encimando barracos miseráveis. Depois, vi na cintura de transeuntes, entorpecidos pela modorra, um pequeno aparelho –o celular. É a horizontalidade tecnológica influindo diretamente na horizontalidade social. Essa consciência, que chega de longe e de perto, que difunde inexoravelmente a injustiça das desigualdades, coloca em ebulição as tradições, o desenvolvimento de novos extratos sociais, nascidos da expansão do sistema educativo, que produz o amálgama da resistência”.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Lição Das Campanhas

Preste atenção! Campanhas eleitoriais nunca se repetem. Pode até ter semelhanças, mas nunca é igual. Claro que Cid F. Gomes sabe disso e deve contratar os melhores consultores do Brasil. Desta vez, ele não contará com os créditos do ronda (mas os débitos), nem terá os puxadores de voto que teve na campanha anterior. Tampouco terá um adversário pedindo para perder, sem falar que desta vez o senador Tasso Jereissati deverá realmente estar do outro lado. A pista vai ser o nome que TJ vai lançar para concorrer. Se for um nome sem expressão, como Marcus Cals, ficará claro que ele não quer a disputa e que fará o jogo mole que fez das outras vezes para não repelir os votos (ao Senado) dos Gomes.


A DIREÇÃO DO MARKETING

É preciso que os opositores saibam o que é campanha eleitoral e a motivação do eleitor. O Ceará, mais que o Brasil, tem TNM (Território Não Mapeado) eleitoralmente, mas para detectá-lo é necessário entender, pois ele só ocorre durante a dinâmica da campanha. A campanha de Cid F. Gomes vai ter como foco os canteiros de obras espalhados pelo Ceará, no melhor modelo que deu certo em três oportunidades com Juracy Magalhães (uma vez com Cambraia e duas vezes com o próprio JM). E aí, como enfrentar esse rolo compressor que já foi detonado (é só o que se vê na TV)? Bem, esta lição é mais cara. Sem dúvida, o que se considera imbatível, tem fragilidade quase explítica. É bem a história daquele bom vendedor de cavalo que não esconde o defeito do animal, mas só diz que "o defeito está na vista". Se os especialistas não perceberem que o cavalo é cego, vão comprá-lo. Aí não haverá jeito, pois não sobrará tempo para trocar o cavalo.

sábado, 12 de junho de 2010

Veja Ensaios

Segunda-feira você poderá ler o terceiro ensaio ("Mixórdia da dominação III") sobre a história política do Ceará dos últimos 30 anos.


ANTES TARDE DO QUE NUNCA

Senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) declarou que é hora de renovar (colocar sangue novo) a política cearense. A verdade é que já passou da hora e ele mesmo é o culpado pelo revezamento de poder entre as duas famílias que agora condena. Desde 1987, são 12 anos de Jereissati, 8 anos da família Gomes e 4 anos do Lúcio, eleito pelos dois. Agora, está em disputa mais 4 anos para a família Gomes ou o rompimento com essa oligarquia e a ironia seria a ruptura partir de casa. Quase nunca é diferente. Lembre-se que foi Juracy, vice de Ciro na prefeitura de Fortaleza no início dos anos 90, que patrocinou o maior enfrentamento à dupla Tasso-Ciro.

SEM CANDIDATO MEIA-BOCA

Estou fazendo força para acreditar no rompimento entre PSDB-PSB. Ainda penso que uma conversinha de Gomes (o mais velho) com Jereissati vai fazer tudo retornar ao que era. Foi assim nos últimos 20 anos. Mas, se assim não for, espero que Jereissati, que tem pavor a gastar dinheiro (dele) em campanha, não lance um candidato meia-boca, como o inodoro Marcus Cals, para concorrer ao pleito. Se ele vai para a briga teria de fazer uma grande briga, agregando toda a oposição (o DEM já é dele, o PS, o PPS e até o PR). Aí teríamos realmente uma democracia eleitoral.


QUEIMOU RUIM

O governador Cid Gomes (PSB-CE) ficou irritado com a faca na barriga do PSDB e reagiu dizendo que não gosta de ser pressionado. A pressão tucana, apesar de não ser deliberativa (ou seja, pode ter recuo) teve segundo round, quando o próprio Jereissati declarou que o partido pode ter candidato próprio porque a política cearense precisa de sangue novo. Cid disse ainda que tem um cronograma a cumprir nesse aspecto e que, se o PSDB achou de decidir por um candidato, isso é questão deles. E agora Jereissati, gostou do canto de carroceria?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Mixórdia da Dominação II


No Ceará, começava uma dominação que já supera a barreira dos 20 anos. O velho coronelismo dos donos dos votos deu lugar ao pragmatismo empresarial, que colocava a propaganda na TV como principal cabo eleitoral, algo bem parecido com o método democrático descrito por Schumpeter. Vivemos agora a segunda geração desse modelo, ascedente pela chegada (e por força) ao poder do produto melhor acabado do sindicalismo brasileiro. Lula e seu PT. A evolução política que se esperava com a guinada a esquerda esbarrou ligeiro na fraqueza moral[1] atávica e na ambição de prolongar a dominação dos novos líderes.

O início da era Jereissati até passou alguma esperança, mas o modelo elitista hermético adotado cerceou uma maior participação mesmo da elite. O rol fechado de ungidos só permitiu a entrada do jovem Ciro Gomes, um deputado de segundo mandato (1982 e 1986), originário da Arena e filiado ao PDS (seu sucedâneo), que fez parte do jeep de César Cals, coronel que revezou com Adauto Bezerra e Virgílio Távora os governos da ditadura. Verborrágico e adepto da gabarolice, Gomes ganhou a confiança e admiração de Jereissati, que precisava de um arauto que defendesse e verbalizasse os atos do Governo. Deu certo. O deputado de poucos votos ganhou notoriedade e foi indicado para disputar a sucessão de Maria Luiza Fontenele na Prefeitura de Fortaleza, tendo de transferir seu título de Sobral fora de prazo (Mauro Benevides deu um jeito). Venceu por uma diferença de pouco mais de cinco mil votos.

Dois anos depois, era eleito para suceder o próprio Jereissati, deixando o vice Juraci Magalhães como prefeito, que se constituiria no maior adversário do grupo nos 16 anos seguintes. Ficou no cargo até dia 6 de setembro de 1994. Saiu, a convite do presidente Itamar Franco, para assumir o Ministério da Fazenda no lugar de Rubens Ricupero, flagrado confidenciando ao jornalista Carlos Monfort que havia problemas no Plano Real no instante em que a Rede Globo estava se preparando para colocar no ar um programa jornalístico, no episódio que ficou conhecido como escândalo da parabólica. A partir daí passou a figurar no cenário nacional, chegando a disputar por duas vezes a presidência da República pela leganda do PPS: em 1998, ficando em terceiro lugar, com 7.426.190 votos, e em 2002, quando ficou em quarto lugar com 10.170.882 votos. No início da última campanha presidencial, Gomes chegou a surpreender, mas foi pego na mentira, quando disse em entrevista que tinha estudado a vida inteira em escola pública e que havia combatido a ditadura militar[2]. A meteórica carreira de Ciro Gomes não deixou um rastro memorável. Foi sempre marcada pelo descompromisso ético, ideológico e pelo oportunismo. Em pouco tempo, apenas para atender as oportunidades, Gomes fugiu do PDS (1983), abrigou-se no PMDB da era Tasso e o seguiu para o PSDB, após a frustrada aventura de adesão do grupo a Collor de Mello (PRN) durante a campanha presidencial do alagoano. Transferiu-se para o PPS (1996) na primeira disputa presidencial (1998), repetiu o lance na eleição seguinte (2002). Apoiou Lula no segundo turno em troca de cargos na estrutura do governo federal.

_____________________________
[1] Hobbes nos ensina que a ética está formada por um ato de consciência voluntária do homem e da mulher, consciência que é derivada da formação moral, social, religiosa, política ou acadêmica de cada um. Dentro dessa concepção individual, a ética transcende a esfera do pessoal para alcançar a ética coletiva e assim se estabelece o que poderíamos denominar de ética ou moral pública.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A Mixórdia da Dominação I

INTRODUÇÃO

O Ceará vive um momento ímpar da sua história política, mas não é possível analisar a razão do inusitado quadro sem recuar no tempo para chegar as raizes deste nova geração, que agora domina a poítica do Ceará, e seu cruzamento com o grupo nacional que ascendeu ao poder na virada do século. A seguir, sob o título "A mixórdia da dominação I", o primeiro texto sobre o assunto.

A MIXÓRDIA DA DOMINAÇÃO I

A prática cotidiana da política tem feito com que os atores percam a visão global e terminem por cair em um exercício político egocêntrico que responde bem às necessidades de presença no ambiente social, mas que igualmente produz distorções nos objetivos sociais. Para Maximilian Emil Carl Weber, a política é a aspiração de participação no poder e esta aspiração ao poder pode decorrer da sede de prestígio ou pode ser produzida por puro egoismo. Thomas Hobbes dizia que a política tudo previne e tudo gera. É este cenário que vive hoje a política do Ceará, como um espelho opaco do Brasil. Para entender melhor tudo isso, é preciso recuar um pouco no tempo. Foi a partir do final da década de 70 que começaram a tomar forma as lideranças que viriam a ter seu apogeu depois da virada do milênio.

A maioria cresceu no território minado da ditadura militar, alguns usando o trampolim dos movimentos sociais, do sindicalismo, da resistência política ou ainda na controlada tribuna política notadamente oposicionista. O início do decênio de oitenta trouxe o enfraquecimento da ditadura e o consequente fortalecimento sindical e dos movimentos sociais e de classe. Em 1985, instalou-se a transição à democracia Iam-se os anéis, mas ficavam os dedos. Uma trôpega reorganização partidária e eleitoral, teoricamente, traria um maior pluralismo ideológico, mas só colocou em evidência as manjadas caras da velha política brasileira que ainda prevaleciam no cenário nacional, incrustados nos dois maiores partidos (MDB, depois PMDB, e PFL). A predominância dessas velhas lideranças tornaram insignificantes as mudanças de valores e práticas políticas, permanecendo as mesmas relações clientelistas e o impúdico tráfico de influência no Congresso Nacional. O período final da transição foi sacudido pelo impeachment de Collor de Mello (dezembro de 1992), um golpe duro na incipiente retomada democracia brasileira, mas que, por força da surpreendente mobilização social terminou por assegurar a sua continuidade e fortalecimento.

Fortaleza, em que pese ter chegado à ruptura por um movimento de elite, foi a primeira capital a quebrar os velhos paradigmas. A professora universitária Maria Luiza Fontenele foi eleita prefeita (1986-89). Era a primeira mulher e a primeira prefeita de capital eleita pelo emergente PT, vencendo surpreendentemente (até o Ibope, que errou seus prognósticos) batidos líderes como Paes de Andrade (PMDB) e Lúcio Alcântara (PFL). Aberta a porta, o grupo do CIC, sob o comando de Tasso Jereissati, ainda que fortemente influenciado por velhos caciques, patrocinou o rompimento definitivo, ao vencer Adauto Bezerra (PFL) na eleição ao governo do Estado. Não foi privilégio do Ceará. Era a primeira eleição direta livre após o novo ordenamento constitucional e em todo o Brasil houve, em maior ou menor escala, um rompimento com o “status quo”. Foi essa geração que nos legou, entre outros, Collor de Mello (AL), valdir Pires (BA), Álvaro Dias (PR), Pedro Simon (RS), Orestes Quércia (SP), Moreira Franco (RJ) e Miguel Arraes (PE).