INTRODUÇÃO
O Ceará vive um momento ímpar da sua história política, mas não é possível analisar a razão do inusitado quadro sem recuar no tempo para chegar as raizes deste nova geração, que agora domina a poítica do Ceará, e seu cruzamento com o grupo nacional que ascendeu ao poder na virada do século. A seguir, sob o título "A mixórdia da dominação I", o primeiro texto sobre o assunto.
A MIXÓRDIA DA DOMINAÇÃO I
A prática cotidiana da política tem feito com que os atores percam a visão global e terminem por cair em um exercício político egocêntrico que responde bem às necessidades de presença no ambiente social, mas que igualmente produz distorções nos objetivos sociais. Para Maximilian Emil Carl Weber, a política é a aspiração de participação no poder e esta aspiração ao poder pode decorrer da sede de prestígio ou pode ser produzida por puro egoismo. Thomas Hobbes dizia que a política tudo previne e tudo gera. É este cenário que vive hoje a política do Ceará, como um espelho opaco do Brasil. Para entender melhor tudo isso, é preciso recuar um pouco no tempo. Foi a partir do final da década de 70 que começaram a tomar forma as lideranças que viriam a ter seu apogeu depois da virada do milênio.
A maioria cresceu no território minado da ditadura militar, alguns usando o trampolim dos movimentos sociais, do sindicalismo, da resistência política ou ainda na controlada tribuna política notadamente oposicionista. O início do decênio de oitenta trouxe o enfraquecimento da ditadura e o consequente fortalecimento sindical e dos movimentos sociais e de classe. Em 1985, instalou-se a transição à democracia Iam-se os anéis, mas ficavam os dedos. Uma trôpega reorganização partidária e eleitoral, teoricamente, traria um maior pluralismo ideológico, mas só colocou em evidência as manjadas caras da velha política brasileira que ainda prevaleciam no cenário nacional, incrustados nos dois maiores partidos (MDB, depois PMDB, e PFL). A predominância dessas velhas lideranças tornaram insignificantes as mudanças de valores e práticas políticas, permanecendo as mesmas relações clientelistas e o impúdico tráfico de influência no Congresso Nacional. O período final da transição foi sacudido pelo impeachment de Collor de Mello (dezembro de 1992), um golpe duro na incipiente retomada democracia brasileira, mas que, por força da surpreendente mobilização social terminou por assegurar a sua continuidade e fortalecimento.
Fortaleza, em que pese ter chegado à ruptura por um movimento de elite, foi a primeira capital a quebrar os velhos paradigmas. A professora universitária Maria Luiza Fontenele foi eleita prefeita (1986-89). Era a primeira mulher e a primeira prefeita de capital eleita pelo emergente PT, vencendo surpreendentemente (até o Ibope, que errou seus prognósticos) batidos líderes como Paes de Andrade (PMDB) e Lúcio Alcântara (PFL). Aberta a porta, o grupo do CIC, sob o comando de Tasso Jereissati, ainda que fortemente influenciado por velhos caciques, patrocinou o rompimento definitivo, ao vencer Adauto Bezerra (PFL) na eleição ao governo do Estado. Não foi privilégio do Ceará. Era a primeira eleição direta livre após o novo ordenamento constitucional e em todo o Brasil houve, em maior ou menor escala, um rompimento com o “status quo”. Foi essa geração que nos legou, entre outros, Collor de Mello (AL), valdir Pires (BA), Álvaro Dias (PR), Pedro Simon (RS), Orestes Quércia (SP), Moreira Franco (RJ) e Miguel Arraes (PE).
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