No Ceará, começava uma dominação que já supera a barreira dos 20 anos. O velho coronelismo dos donos dos votos deu lugar ao pragmatismo empresarial, que colocava a propaganda na TV como principal cabo eleitoral, algo bem parecido com o método democrático descrito por Schumpeter. Vivemos agora a segunda geração desse modelo, ascedente pela chegada (e por força) ao poder do produto melhor acabado do sindicalismo brasileiro. Lula e seu PT. A evolução política que se esperava com a guinada a esquerda esbarrou ligeiro na fraqueza moral[1] atávica e na ambição de prolongar a dominação dos novos líderes.
O início da era Jereissati até passou alguma esperança, mas o modelo elitista hermético adotado cerceou uma maior participação mesmo da elite. O rol fechado de ungidos só permitiu a entrada do jovem Ciro Gomes, um deputado de segundo mandato (1982 e 1986), originário da Arena e filiado ao PDS (seu sucedâneo), que fez parte do jeep de César Cals, coronel que revezou com Adauto Bezerra e Virgílio Távora os governos da ditadura. Verborrágico e adepto da gabarolice, Gomes ganhou a confiança e admiração de Jereissati, que precisava de um arauto que defendesse e verbalizasse os atos do Governo. Deu certo. O deputado de poucos votos ganhou notoriedade e foi indicado para disputar a sucessão de Maria Luiza Fontenele na Prefeitura de Fortaleza, tendo de transferir seu título de Sobral fora de prazo (Mauro Benevides deu um jeito). Venceu por uma diferença de pouco mais de cinco mil votos.
Dois anos depois, era eleito para suceder o próprio Jereissati, deixando o vice Juraci Magalhães como prefeito, que se constituiria no maior adversário do grupo nos 16 anos seguintes. Ficou no cargo até dia 6 de setembro de 1994. Saiu, a convite do presidente Itamar Franco, para assumir o Ministério da Fazenda no lugar de Rubens Ricupero, flagrado confidenciando ao jornalista Carlos Monfort que havia problemas no Plano Real no instante em que a Rede Globo estava se preparando para colocar no ar um programa jornalístico, no episódio que ficou conhecido como escândalo da parabólica. A partir daí passou a figurar no cenário nacional, chegando a disputar por duas vezes a presidência da República pela leganda do PPS: em 1998, ficando em terceiro lugar, com 7.426.190 votos, e em 2002, quando ficou em quarto lugar com 10.170.882 votos. No início da última campanha presidencial, Gomes chegou a surpreender, mas foi pego na mentira, quando disse em entrevista que tinha estudado a vida inteira em escola pública e que havia combatido a ditadura militar[2]. A meteórica carreira de Ciro Gomes não deixou um rastro memorável. Foi sempre marcada pelo descompromisso ético, ideológico e pelo oportunismo. Em pouco tempo, apenas para atender as oportunidades, Gomes fugiu do PDS (1983), abrigou-se no PMDB da era Tasso e o seguiu para o PSDB, após a frustrada aventura de adesão do grupo a Collor de Mello (PRN) durante a campanha presidencial do alagoano. Transferiu-se para o PPS (1996) na primeira disputa presidencial (1998), repetiu o lance na eleição seguinte (2002). Apoiou Lula no segundo turno em troca de cargos na estrutura do governo federal.
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[1] Hobbes nos ensina que a ética está formada por um ato de consciência voluntária do homem e da mulher, consciência que é derivada da formação moral, social, religiosa, política ou acadêmica de cada um. Dentro dessa concepção individual, a ética transcende a esfera do pessoal para alcançar a ética coletiva e assim se estabelece o que poderíamos denominar de ética ou moral pública.
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