Há situações em que um governante é maior do que o seu
partido e maior até do que o seu governo. E há situações em que o governante
perde nas duas alternativas, ou em apenas uma. É o desgaste político que assim
o determina. Lula superava o partido e o governo. Dilma também está conseguido
suplantar o PT e o governo, os dois entressachados pela corrupção, que chega a
impressionante soma de R$ 70 bi ao ano. Lembra da administração Lúcio
Alcântara, com o governo bem avaliado, mas derrotado no primeiro turno por Cid
Gomes, então no incipiente PSB e aliado do PT? Era um caso contrário. Preste
atenção agora nos casos de Cid Gomes e de Luizianne Lins. Vivem igualmente,
agora, situações contrárias, inusitadas e diferentes.
Cid, da dinastia Gomes, conseguiu, nos primeiros 4 anos de
gestão inflar o partido e carregar o governo ao mesmo patamar de sua imagem.
Foi reeleito sem dificuldades. Luizianne fez o mesmo, com maior dificuldade, na
prefeitura de Fortaleza. Mas o instituto da reeleição, entre tantos males, adi mais
este. O segundo mandato é sempre pior que o primeiro e perceba que o primeiro é
sempre condicionado ao segundo. A síndrome do fim do poder não renovável gera o
(permita-me) "fuck you", que entranha-se na personalidade do governante, agregada à arrogância e a
prepotência (às vezes já presente, embora dissimulada). Divise os últimos fatos
envolvendo os dois personagens principais da política cearense.
Primeiro: Dilma
e Cid Gomes se desentenderam no Cariri (está na edição da Veja no dia
14/03/2012), onde estavam presentes também os governadores Eduardo Campos (PSB-PE)
e Wilson Martins (PSB-PI). O governador cearense se irritou com a presidente
sobre a questão dos investimentos federais e interrompeu uma fala da presidente
e ela sempre se irrita com isso. Dilma levantou a voz (gritou, admoestando) e
Cid respondeu que não era assim que se devia tratar um governador de Estado, saiu
da reunião amuado e foi preciso o governador de Pernambuco, Eduardo campos dar
uma de bombeiro. Era a gota que faltava no transbordo do copo que começou a
encher quando o irmão mais velho (Ciro) não foi escolhido para ocupar um
ministério e chegou às bordas quando o senador Pimentel (PT-CE), eleito na aba
de Cid e Lula, espalhou que estava voltando dinheiro federal do governo do
Ceará por falta de projeto. A intriga, apesar dos pedidos de desculpas, rende
até agora.
Segundo: A
prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT-CE) adverte ao governador do Ceará, Cid
Gomes, que o PT fará incisiva oposição ao governo dele em caso de rompimento da
aliança. "É importante saber que
não é só fim de aliança, mas início de um projeto político diferenciado na
relação do PT e mesmo da Prefeitura com o Governo do Estado". Sobre os diálogos com o PSB em Fortaleza,
Luizianne disse ter uma relação "muito boa" e "respeitosa"
com o governador Cid Gomes, mas lamentou que muitas vezes o "entorno não
ajuda muito" nos debates políticos, em referência aos correligionários de
Cid que trabalham por uma candidatura própria na Capital. Aproveitou para tirar
uma casquinha sobre a articulação política que é feita pelo ex-deputado Ciro
Gomes. "Cid tem demonstrado autonomia sobre suas ações e, embora não seja
"tão falante 'como o irmão Ciro' espero que o governador consiga manter
essa autonomia do ponto de vista político". No meio de tudo está o
oportunista PMDB e seu oportunista senador Eunício Oliveira, atento para pegar
uma fatia maior do bolo.
A faca nos peitos irritou tanto que o governador Cid Gomes e
seu irmão mais velho e principal articulador político do PSB, Ciro Gomes, já realizaram
almoço para deslanchar o processo de escolha de candidatos do partido (PSB)
para as disputas eleitorais nos municípios cearenses este ano. Um sinal claro
de que o PSB não está ligando para a aliança. 108 (dos 184 municípios) candidaturas
foram apresentadas. Fortaleza, claro, por enquanto, está fora. Muitos
interesses, particulares, sem dúvida, estão em jogo, e não é fácil abrir mão de
generosas fatias de poder, para que decisões dessa natureza não sejam
exaustivamente repensadas. Daí vale relembrar a famosa classificação bipartida
das formas sãs e degeneradas de governo de Aristóteles: "...quando um só,
ou vários, ou a multidão, usam a autoridade de acordo com a utilidade comum,
esses governos têm necessariamente de ser bons; mas aqueles que não usam o
poder senão no interesse de um só, ou de vários, ou da multidão, são desvios em
relação a esses bons governos".
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