sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A CORRUPÇÃO EM QUATRO CAPÍTULOS


A corrupção é e sempre foi um entrave sério ao crescimento do Brasil. Muitas são as causas, muitas e perversas são as consequências. Só há um caminho para combater esse mal, que corrói instituições e contamina a sociedade: levar os culpados ao ostracismo da prisão.Todavia, isso não tem ocorrido. O que se observa nitidamente, é que muitos dos agentes atuais do poder (em todos os níveis) não assumem compromissos verdadeiros combatê-la. Alguns tentam até politizá-la, produzindo um mal maior. Sabemos que é difícil modificar uma prática que se vem perpetuando ao longo da história, mas é preciso ao menos sinalizar nessa direção. É necessário que essas pessoas que hoje se encontram em posição de mando, pelo menos, dêem sinais claro de que condenam e não exaltam os vícios políticos que cristalizam condutas, atos e ações que fazem soçobrar projetos de mudanças em favor de interesses coletivos. Em quatro artigos, que publicaremos a cada dois dias, vamos abordar o assunto em profundidade, na tentativa de, ao menos, aclarar o papel dos atores e o papel da sociedade. Peço que leiam e critiquem, acrescentem e tomem posições. Ficarei lisonjeado.

I - O PODER ABSOLUTO CORROMPE ABSOLUTAMENTE

Muito já se escreveu e pesquisou sobre a corrupção, política, essencialmente. Na teoria política há uma frase famosa do inglês John Emerich Edward Dalberg-Acton, primeiro Barão Acton, conhecido como Lord Acton, que diz que "o poder tende a corromper - e o poder absoluto corrompe absolutamente". Lord Acton aprofundou demais quando acrescentou que "a autoridade política, nas sociedades humanas, em função apenas e tão somente de sua existência tende a danificar as relações entre seres inicialmente dotados de igualdade". Mas é claro que em uma sociedade patrimonialista e conservadora como a brasileira e ainda com um sistema de partidos e um presidencialismo de coalização como o nosso, o poder facilita e tende a corromper quase que incontrolavelmente. 
 
O poder político é sedutor e faz de seu detentor uma pessoa diferente das demais, cercando-a de símbolos, distinções, privilégios e imunidades que sinalizam sua hierarquia superior. Um exemplo aviltante são as regras de cerimonial, que regulamentam qual deve ser o comportamento das pessoas inferiores na presença da autoridade, uma herança remota dos reis, faraós e similares, tidos como ungidos pelos deuses. Como passar do tempo, exposto à adulação e ao servilismo, vem a transformação do indivíduo privado em uma autoridade (quase uma deidade) pública utente do poder. Alguns, como Chávez, são deolépeticos. Há também aquele que se julga um polímata, sabedor de todas as coisas sabíveis e de mais algumas ("de omni re scibili et quibusdam aliis").
 
Pode-se supor, também, que a frase de Lord Acton seja uma racionalização moderna da frase que o escravo encarregado de segurar a coroa de louros sobre a cabeça do general romano vitorioso deveria pronunciar, repetidamente, ao seu ouvido, durante a cerimônia do "triunfo" (homenagem que os cidadãos romanos prestavam ao general que entrava em Roma desfilando à frente a seu exército): "Não esqueças que és humano". Quem sabe, vivificar tal costume não fosse benéfico a alguns políticos e, fundamentalmente, ao povo, que deveria ser o verdadeiro beneficiário do poder público?

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