Passado o caos gerado pela boataria e pelo vácuo de
autoridade é hora de o governo analisar o episódio em toda sua dimensão. Não
para buscar culpados, pois agora já não mais interessam, mas para apurar
desempenho, ajustar a máquina e corrigir os erros, principalmente políticos. Da
mesma forma que o ócio é mal habitante das horas, a arrogância e a adulação,
por obrigação, são péssimas habitantes das horas de crise. Os grevistas, mesmo
agindo de forma amadora e ao arrepio da lei, souberam muito bem usar e abusar
de suas atribuições para espalhar o terror.
O governo do Ceará parece ter sido atingido pelo vírus da
incompetência, que transita fagueiro pelos corredores governistas, quando optou
por permanecer calado durante todo o episódio da desgastante greve. Ora, eles
sabem e todos sabemos que o boato se realimente e se espalha como um rastilho
quando não encontra o seu antivírus: a informação. O Ceará parou (e fechou) na
boataria. A violência não saiu do trilho e continuou nos seus altos índices de
"normalidade". Nada além disso. O mesmo procedimento está em curso na
greve dos policiais civis. É claro, só o humilde reconhece (não por discurso) o
erro.
A MÃO QUE AFAGA É A MESMA QUE APEDREJA
Resultado de tudo: o governo saiu derrotado, vai retaliar na
surdina (o clã não esquece. Ainda bem que os governos passam) e pagar o preço
(deixamos de fora o alto preço que população já pagou). E o preço que o governo
vai pagar não é relativo somente aos custos para o erário, mas, principalmente,
o preço político. O corrosão é acentuada e grave o precedente. De quebra,
fabricaram um algoz, o suplente de deputado capitão Wagner (PR), já cogitado
para uma candidatura a vice ou a prefeito de Fortaleza. E neste deserto de
nomes até que tem espaço, pois entra como uma cunha no ponto fraco do governo -
a segurança pública. Por ironia, o tema que elegeu o governo pode, agora,
derrotá-lo. "A mão que afaga é a mesma que apedreja...", como
escreveu o soturno poeta paraibano Augusto dos Anjos.
UM LOBO É UM LOBO, UMA VAIA É UMA VAIA
Pode a vaia à prefeita de Fortaleza, na festa do Réveillon,
não ter sido sobra da crise na segurança, mas com certeza algumas consequências
políticas da greve já estão em curso no seio petista. Óbvio que a prefeita minimizou
o fato, verbalizando que foi um pequeno apupo. Foi uma sonora vaia, extensiva aos dois pré-candidatos (Elmano e
Catanho), que a ladeavam no palanque, ela nem percebeu.
Veja o que ela disse sobre a vaia e a presença imperceptível
dos dois pré-candidatos: “Vi uma coisinha isolada, pontual. Não houve essa vaia
em massa. Sou muito sensível a essas coisas. Eu seria a primeira a ficar
arrasada. E saí feliz”. Sobre a presença de Waldemir Catanho e Elmano
Freitas, seus dois pré-candidatos preferidos, ao seu lado no palco: “Nem
percebi que o Catanho e o Elmano estavam do meu lado. As pessoas foram
encostando para dar força. Sem fazer nenhuma menção a eles, ali passa batido.
Não foi coisa feita com objetivo de torná-los conhecidos”. Nós sabemos,
prefeita.
Não dá para olvidar que governo e prefeitura são parceiros
de administração e de proposta na questão da segurança pública. A prefeita prometeu
reforçar a Guarda Municipal durante sua gestão. Foi apenas um discurso para
esvaziar (na campanha) seu principal adversário (Moroni), que prometia
reestruturar e contratar 5 mil homens e mulheres para a Guarda Municipal,
transformando-a em uma força auxiliar da PM. Até agora o "rapa" só é competente
na perseguição dos ambulantes.
POLÍCIAS FEDERAL, ESTADUAL E METROPOLITANA
A greve ilegal da PM e do Corpo de Bombeiros e agora da
Polícia Civil deixa lições que precisam ser aprendidas. Já que a lei foi
aviltada e o regulamento e a hierarquia vilipendiados é hora de mudar tudo. O
caminho é a unificação das polícias por nível de abrangência, ou seja, nos
planos federal, estadual e municipal, acabando com a salada hoje existente. Existe
a Polícia Federal (do Ministério da Justiça) e a Polícia Rodoviária Federal
(ligada ao DNIT), e algumas guardas, como a ambiental, florestal etc. Nos
âmbitos estadual e municipal a miscelânea é a mesma. PM, Polícia Civil, Guarda
Municipal, AMC etc. Passariam a existir três polícias e cada uma delas nos seus
diversos níveis (ou unidades) de atuação: Polícia Federal, Polícia Estadual e
Polícia Metropolitana, ligadas, respectivamente ao ministério da Segurança
pública e as secretarias estadual e municipal de igual denominação. O Corpo de
Bombeiros deixaria de ser militar e seria uma unidade da Defesa Civil, com
abertura, inclusive para voluntariado. É um caminho mais coeso.
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