Este blogdoerivas vai cobrir as eleições pelo Brasil, acompanhando, passo-a-passo, a dança das pesquisas e o foco da campanha, apontando erros e acertos. Para melhor entendimento, vamos abordar o assunto regionalmente, começando pela região Nordeste, pelo fator proximidade. Depois, é claro, virão as outras regiões. Não omitirei comentários sobre a trajetória de vida política de cada candidato e sobre desempenho deles na campanha. Vamos iniciar com Ceará, Piauí e Maranhão. Veja como está a disputa nos três Estados.
CEARÁ – ERROS E ARROGÂNCIA
Pesquisa, que você já viu publicada (Datafolha entre os últimos dias 14 e 15), apontou boa vantagem para o atual governador Cid F. Gomes (PSB), candidato à reeleição. Com 47% dos votos na pesquisa estimulada, ele reúne mais intenções de voto que a soma (36%) de todos os demais concorrentes. O ex-governador Lúcio Alcântara (PR), 26%; Marcos Cals (PSDB), 7%; Francisco Gonzaga (PSTU), 2%; e Soraya Tupinambá (Psol), 1%. Marcelo Silva (PV) e Maria da Natividade (PCB) tiveram menos de 1%. O levantamento foi contratado pelo jornal O Povo, ouviu 912 pessoas, tem margem de erro de três pontos percentuais e foi registrado no TRE-CE com o número 35.709/2010.
Comentário – Até poucos dias antes das convenções, Cid F. Gomes (a criatura) tentou empurrar autoritariamente uma aliança ampla, envolvendo também PSDB e DEM, deixando de fora e sem tempo de TV, o PR e o PPS. O PT resistiu, por não aceitar o senador Tasso Jereissati (PSDB) na coligação. O rompimento acabou por acontecer. Jereissati (o criador), dono da sigla tucana, rompeu atirando contra a oligarquia Gomes, que ele criou, e lançou Marcos Cals (até dia 3 de abril passado, secretário de Cid F. Gomes). Lúcio Alcântara-PR, que entregou o governo em 2006 para os irmãos Gomes, à época com apoio de Jereissati, viu na dissensão, a oportunidade de ressuscitar, após o fracasso da campanha para a prefeitura de Fortaleza (com o deputado estadual Adahil Barreto). No final, quem mais perdeu foi Cid F. Gomes e seu aliado PT. Cid agora enfrenta uma luta acirrada, apesar da folga nas pesquisas, e o PT, porque teve de renunciar a vaga de vice-governador, para ficar com uma vaga de senador (Pimentel). PMDB ganhou. Tem o vice (Domingos Filho) e um senador (Eunício Oliveira). Cid escolheu um vice de confiança para, se eleito, ter tranquilidade para renunciar e postular uma vaga ao Senado (quem sabe?), deixando seu vice como candidato a reeleição. A prefeita de Fortaleza e presidente estadual do PT, Luizianne Lins, não engoliu a trama e já disse que vai apoiar Cid F. Gomes cirurgicamente, ou seja, só em algumas situações.
A campanha de marketing está estrangeirada nos três candidatos competitivos e provinciana nos três nanicos. Jereissati trouxe seu time de fora, Cid F. Gomes, também, e até Lúcio cedeu ao “lobby” de um financiador paulista e trouxe equipe de fora. A moda foi lançada por Jereissati em 1986, sua primeira campanha. Ensinou que nada local presta. Só o que vem de fora. Menos os candidatos (e o dinheiro, que não carrega local de nascimento), a tirar pelo que disse Cid F. Gomes: “Serra é preparado, é inteligente, é competente. Mas o Serra é lá pro povo do Sul, ele não é pra gente aqui do Nordeste”. Indo e voltando, são atitudes discriminatórias.
O discurso até agora não está ajustado. Os três candidatos de maior peso navegam nas ondas dos fatos, com rara exceção, cobertos de forma tendencial pelos veículos de comunicação (vício original). Quando o fato é mais duro, já vem acompanhado da vacina, como ocorreu no caso da morte (por um policial do Ronda) do jovem Cristian, imediatamente comparada a morte do brasileiro Jean Charles ocorrida em Londres em 22 de julho de 2005.
Cid F. Gomes tenta parecer popular, filando copo de cerveja de um eleitor, subindo na garupa de um jumento ou colando adesivos nas ruas, mas nada pode dizer quanto à sua postura oligarca. Promete mostrar os canteiros de obras e anuncia muito mais. A oposição não consegue sair da crítica ao Ronda e a arrogância do candidato situacionista. Marcos Cals faz algumas propostas pontuais, em cima de pontos fracos do Governo, enquanto Lúcio (2 minutos na TV) confessa que não saberia o que fazer com o Ronda. É pouco. Cid F. Gomes está na vantagem. Segundo turno é possível, mas é preciso densidade das chapas oposicionistas.
MARANHÃO – DUELO ENTRE FICHAS SUJAS
Não tomei conhecimento (posso estar equivocado) de pesquisas recentes, e com abrangência estadual, que mereçam citação. Os principais candidatos no estado são o deputado federal Flávio Dino (PCdoB), o ex-governador Jackson Lago (PDT) e a atual governadora, Roseana Sarney (PMDB).
Comentário – As informações de bastidores de pesquisas contratadas (não encomendadas) tanto pelo pessoal ligado à família Sarney como pelos aliados de Jackson Lago dizem que Roseana estaria com vantagem sobre Lago, apesar do desgaste do apoio do PT nas classes mais abastadas (não ligadas a Sarney, que não são muitas). Fosse um Estado não dominado pela oligarquia Sarney, que impõe o que quer, nenhum dos dois seria candidato. Lago foi apeado do Governo sob a acusação de abuso de poder econômico pela própria Roseana, que tinha ficado em segundo lugar na eleição passada. Agora, ele quer retomar o poder, mas esbarra no Ficha Limpa, que pode tirá-lo da disputa. O terceiro candidato, Flávio Dino (PCdoB) não aparece bem, embora o terreno esteja fértil para um nome novo. Foi candidato a prefeito na eleição municipal passada e perdeu no segundo turno. Apesar do pouco tempo de TV e de política poderia germinar, em circunstâncias normais de temperatura e pressão. A força da oligarquia Sarney no subdesenvolvido Maranhão está segurando Roseana. Segundo turno.
PIAUÍ – CAMINHO ABERTO A NOVA PROPOSTA
O Piauí fervilha de pesquisa, algumas não merecem sequer citação. Vou levar em conta, como ponto de partida, a pesquisa do instituto Amostragem, realizada entre 18 e 21 de junho. O ex-prefeito de Teresina, Sílvio Mendes (PSDB), apareceu com 36,5% das intenções de voto, seguido pelo atual governador, Wilson Martins (PSB), com 24,89%; e João Vicente Claudinho (PTB), com 22,43%. Brancos, nulos e indecisos somavam 14,16%. Os demais candidatos tiveram menos de 1% da preferência dos eleitores entrevistados. Foram ouvidas 1.137 pessoas. Encomendada pelo Sistema Meio Norte de Comunicação, a pesquisa tem margem de erro de 2,85 pontos e foi registrada no TRE-PI com o número 13.518/2010.
Comentário – O ex-prefeito Sílvio Mendes parecia o favorito, mas enrolou-se na escolha do vice e não agradou. Perdeu alguns pontos. O jogo está embolado e falta somente ajustar o discurso e o foco da campanha, o que não será fácil, tendo em vista o sestro das equipes de marketing local, contratadas para conduzir o trabalho nas três principais campanhas. Bom que sejam equipes locais, mas era necessário, pelos menos, ouvir ideias novas para sair do trilho rebatido. A chave da questão é saber o que o eleitor piauiense quer, depois de quase 8 anos do PT de Wellington Dias. A resposta pode sair partida entre Teresina e o restante do Piauí.
Sílvio Mendes não assume o papel de oposição, embora solte críticas ao modelo de governo vigente. Vai focar as obras que realizou em Teresina, referência vaga para os extremos do PI. Deverá andar os 223 municípios para aumentar o conhecimento e fazer identidade com o eleitor. Pode perder densidade no roteiro para o governador Wilson Martins, mas afeito à estrada, montado na máquina e tirando proveito do condutor – Wellington Dias. O discurso deve ser elaborado com cuidado, pois deve assumir o papel do continuísmo e de avanço. O mero continuísmo pode resultar pouco. Sobra na terceira raia o senador João Vicente Claudino, com apagado desempenho parlamentar na primeira quadra do seu mandato (tem mais 4 anos). Foi eleito a bordo do barco da reeleição de Wellington, à época imbatível e dele foi aliado até meses atrás. Não sabe encarnar o papel de oposição, ainda que a força do grupo empresarial do pai (João Claudino) lhe confira alguma sustentação. Também faz parte da base de apoio de Lula, mas não poderá usufruir do prestígio dele, já agregado ao candidato situacionista. Tempo pouco tempo de TV e se ficar só nas propostas fáceis pode perder fôlego logo na largada. Pode só estar querendo manter o nome em alta para o próximo embate eleitoral. Segundo turno certo.
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