sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Perigo Que Ronda a Democracia

A oposição enfim reagiu. Antes tarde do que perder sem espernear. Esperava que fosse mais forte, afinal há muito a explorar, no passado e no presente, e o eleitor tem o direito de saber de tudo. Como tantas vezes, Lula da Silva, do alto do seu posto de presidente da República, misturou propositalmente as coisas. É aí onde mora o perigo. Lula foi eleito pelos brasileiros para defender o país e suas instituições. Da mesma forma que é mais grave quando um agente da segurança pública comete um crime, quando era sua obrigação combatê-lo.

Enfocando o assunto, a candidata do PV, Marina Silva, tocou o dedo na ferida. Em sua fala quase sumida, acusou o presidente Lula de não ter agido em benefício do cidadão brasileiro no caso dos sigilos fiscais, como seria sua obrigação funcional. Milhares de cidadãos tiveram seus sigilos violados por funcionários da Receita e o governo, em vez de se desculpar com essas vítimas indefesas e tomar providências imediatas para restaurar a confiança pública naquele órgão, preocupou-se apenas em defender a candidata de seu partido à sucessão. Marina foi mais precisa quando se referiu, a certa altura de sua fala, à "banalização do dolo", usando uma expressão que ficou famosa na definição da filósofa Hannah Arendt ao se referir aos crimes do nazismo, com base no julgamento de Adolf Eichmann, como a "banalização do mal".

A preocupação revelada por Marina deveria ser a de todos os brasileiros, principalmente daqueles que não usam os jornais e revistas somente para embrulhar peixe, como a maioria dos “bolsistas” que decide. São várias as atitude de desrespeito do presidente da República ao Estado brasileiro. Recentemente, já escrevi sobre isso, ele disse em uma reunião com generais que “com mais um ano de mordomias e agrados, poderia chama-los de camaradas”, a saudação comunista que se tornou famosa durante a Revolução Bolchevique, que nunca teve objetivos proletários e foi enterrada pelo coveiro Josef Stalin. Com igual banalização ele tratou escândalos passados, como o mensalão e o caso dos aloprados na eleição anterior. O que realmente preocupa é que fatos graves como a violação de sigilos fiscais numa repartição do Estado brasileiro passem a ser tratados como meras "futricas" de campanha, com o estímulo do próprio presidente da República. Quem pode confiar numa apuração quando o próprio Presidente da República (repito) vai a TV para garantir aos cidadãos brasileiros que nada aconteceu, que tudo não passa de uma "armação política" contra Dilma Rousseff, coisa da oposição que é "do contra", não é patriota e tem preconceito contra as mulheres?

Há algo estranho no ar. Faço minhas as palavras do jornalista Gilberto Dimenstein: “Dilma Rousseff está vencendo as eleições porque Lula fez um bom governo, marcado pela redução da miséria, em meio a crescimento econômico e inflação sob controle. Simples assim. Soube manter as conquistas econômicas do seu antecessor e aprofundar programas sociais. Não conheço nenhum período da nossa história em que estivéssemos tão bem, apesar de muito longe de uma nação civilizada e precisarmos ainda de reformas ousadas. Difícil entender por que, com tantas conquistas, termine seu mandato atacando a imprensa, desrespeitando o poder judiciário, acobertando flagrantes falcatruas e dando sinais inequívocos de apoio do aparelhamento do Estado”.

Também me configura esquisito a apatia que se abate sobre setores da sociedade (aqueles que sabem ler jornais e revistas). Vislumbra-se pontuando alguns comentários indignados, mas não se percebe estremecer qualquer movimento mais forte. Aceito a ideia de Marina. Melhor será que a decisão vá a um segundo turno para melhor confronto das propostas e das questões nacionais.


Sobre o mesmo tema, veja comentário de Marco Antônio Villa, na Folha:

A OPOSIÇÃO ACORDOU

Finalmente. Tinha imaginado que a eleição era na Lapônia. E que a candidatura oficial tinha a lhaneza do Papai Noel. Descobriu que vivemos em um país onde as instituições democráticas são frágeis. Onde o Poder Judiciário é de mentirinha. E o Legislativo está sendo invadido -para a alegria mórbida dos inimigos da liberdade- por humoristas decadentes, ex-jogadores de futebol, celebridades instantâneas e “sambeiros” que espancam suas mulheres.

Lula rasgou a Lei Eleitoral. Depois de ter sido multado diversas vezes pela TSE resolveu, a seu modo, a questão: passou a ignorar solenemente o tribunal. Manteve a rotina de associar o cotidiano administrativo com o processo eleitoral. Em outras palavras: “peitou” o tribunal e ganhou. Ganhou por omissão do TSE.

Para Lula, a democracia não funciona pelo respeito às leis, com uma oposição vigilante e pela crítica às ações do governo. Não. Para ele, a democracia só tem uma fala, a dele.
Transformou as cerimônias públicas em espetáculos de humilhação. Aos adversários, como na Revolução Cultural chinesa, reserva o opróbrio. Basta citar dois incidentes recentes: um em São Paulo e outro em Sorocaba. Manteve-se impassível quando a claque vaiou e quase impediu de falar o governador Goldman.

No fundo, estava satisfeito. O mais triste é que o fato foi considerado absolutamente natural. No Brasil lulista a prática de impedir pelos gritos e, se necessário, pela força um opositor de falar está virando rotina.

A associação indevida entre governo e Estado é evidenciada a todo momento. Tanto no escândalo dos dossiês, como no comício de Guarulhos -onde nem usou o disfarce da presença da candidata- ou na decoração do gabinete presidencial, que tem na parede um adesivo com o logotipo do governo em vez de algo símbolo nacional.

O lulismo desqualifica a política. E abre caminho para o autoritarismo. A eleição deixa de ser uma salutar disputa pelo futuro do país e vira uma guerra. Para ele, os opositores não são adversários, são inimigos.

Enfatiza alguns êxitos econômicos (parte deles sem qualquer relação com o atual governo) e sonha com o poder absoluto. Despreza os defensores das liberdades e, por vontade própria, já começou a miniconstituinte: aboliu informalmente o artigo 5º da Constituição.

Age como o regime militar. Tem medo de, cara a cara, enfrentar um oposicionista. Ridiculariza a política. Neste ritmo logo veremos, como na ditadura, algum outdoor com a frase: “Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada”.

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