quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

NEGOCIAÇÃO PÁ-PÉ-PIO



Tem tido repercussão o vídeo sobre a negociação (de desapropriações) da Linha Leste do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), gravado entre o governador Cid Gomes (PSB-CE) e um grupo de pessoas, tendo à frente o construtor e lojista Pio Rodrigues (Construtora C. Rolim e Casa Pio), na festa da Cooperativa da Construção Civil do Estado do Ceará (Coopercon). O vídeo tem sido motivo de insinuações de negociata porque o mais importante (e não o mais arrogante) dos Gomes, como governador, fala na primeira pessoa do singular e se refere à negociação de desapropriação como um "rolo". A conversa parece acontecer na saída do evento, diante um grupo de pessoas inclusive um jornalista, que aborda do governador em seguida. É com um Pio Rodrigues esfuziante que o governador dialogo sobre o "rolo". 

Cid F. Gomes propõe aos empresários que o governo desaproprie as áreas afetadas pelas estações de metrô (a linha Leste do VLT deve ter estações em locais privados, como as ruas Nunes Valente e Leonardo Mota e nos bairros Papicu e Cidade 2000), mas que as empresas paguem essa conta. Em troca, podem "verticalizar", ou, seja construir prédios na região (explico: seria, neste caso, uma Parceria Público Privada - PPP).

        - Então vamos ver se a gente faz um rolo aí - diz o governador.

    - Vamos pensar, vamos pensar - responde com euforia Pio Rodrigues, que depois, no estilo pá-pé-pio, completa, quase gritando, enquanto o governador já se afasta:

        - Traga um tatuzão [máquina que cava túneis] que a gente faz de volta um negócio desses.

Evidente que a conversa suscita desconfiança e não deveria existir entre um governador e um empresário. Mas, no caso, inocento o governador e ouso afirma que conversa foi indicativa apenas do seu estilo oligarca de encarar o público, sempre misturado com o privado. Não seria na frente de tanta gente, e sabendo que estava sendo filmado, que o governador iria tratar de uma negociata "pa-pé-pio". Foi um momento de Luís XIV, o Rei Sol, em que o governador confundiu o estado com ele ("L'État c'est moi").

O fato, porém, é que governador se afetou e foi, em visita-surpresa, à Assembleia Legislativa para explicar o vídeo, que tomou conta das redes sociais. Depois de falar sobre o andamento das obras do projeto, Cid Gomes, que quase nunca reconhece um vacilo, definiu a palavra “rolo”, recorrendo ao dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: "transação comercial em que os contratantes entram com dinheiro e com outros valores, estimados globalmente".

        - Não há nada de pejorativo, no sentido de enrolado - completou, dizendo que as desapropriações deverão ser executadas em uma operação formal (alguma modalidade jurídica), para estabelecer a relação entre o público e o privado.

        - Isso não é nenhum ovo de Colombo - comentou o governador, comparando o caso do Metrofor com o uso de imóveis particulares para a instalação de estações de metrô em Paris, nas Galerias Lafayette, e em Nova Iorque, na loja de departamento Bloomingdale’s.

O governador aproveitou o ensejo para fazer seu comercial, esclarecendo que o pagamento das indenizações de desapropriação deverá ser feito através de recursos disponíveis pelo Estado e que, com a desapropriação, haveria uma verticalização da estação, que deverá ser de uso da iniciativa privada, após seleção através de edital. Acrescentou, paciente, que o uso do local pela iniciativa privada seria durante determinado tempo, para que os empresários financiadores pudessem ser ressarcidos do valor das indenizações de desapropriação. Depois desse período fixado, o bem (imóvel) voltaria ao patrimônio do metrô.

        - A minha preocupação é economizar para o poder público - finalizou o governador, destacando seu acendrado espírito público.

Veja no link abaixo a íntegra do vídeo do "rolo":

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