quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Bandeira Contra o Povo

Alguém aí já leu a coluna Política do jornal O Povo, assinada pelo jornalista Fábio Campos?
Se não, ainda é tempo. Pegue aí o jornal, que ainda não foi usado para enrolar o peixe, e leia o primor de análise que ele faz sobre a violência nas ruas. Mesmo não entendo bulhufas de segurança, o jornalista revela claramente a sua bandeira, melhor dizendo, entrega sem pudor que está a serviço dos poderosos de plantão e não do leitor, como seria o caso. O objetivo do comentário, em três longos tópicos da coluna, é cristalino: esvaziar o discurso dos opositores do poder, principalmente Moroni Torgan, um especialista em segurança, que está na Colômbia (Bogotá) para ver o que foi feito por aquelas bandas para reduzir a violência.

Veja só o começo, como costuma dizer Alan Neto, viperino da nota do jornalista: “E já começou o lengalenga eleitoral em torno da segurança pública”. Só para esclarecer, é a lengalenga jornalista, mas a questão de gênero não invalida o teor do comentário bandeiroso pró-governo e pró-prefeitura. Agora ele trata dos gigolôs da violência e nós deste blog esperamos que ele trate nos próximos comentários dos gigolôs do dinheiro público. Quem são os jornalistas e/ou afilhados destes (vale ex-mulher) que se alimentam das gordas folhas da Prefeitura, principalmente, e do governo?


REINVENTANDO A RODA

Bom, na espera que o jornalista independente aborde o assunto, vale explicar mais alguns pontos do programa Ronda de Quarteirão, que ele tanto torce por acontecer – e nós também: primeiro, o Ronda de Quarteirão foi um “remake” – nada aprimorado e com a inclusão de uma farda de estilista e a luxuosa Hilux SW4 – do programa lançado por Moroni na campanha prefeitural de 2000 sob o nome de “Polícia Comunitária” (lembra?); segundo, policiamento comunitário ou ronda de quarteirão derivam de idéias já praticadas em outros países. É o que os estudiosos da segurança pública chamam de “Polícia de Proximidade”. Melhor explicando, uma polícia próxima ao cidadão, protegendo-o das ações violentas, em especial do seu patrimônio contra furto, roubo ou assaltos, e da violência da droga. Vivemos uma democracia e a violência que o poder público tem o dever de combater ainda não é a violência política – terrorista-, mas a violência do atentado ao patrimônio do cidadão.

O que todos queremos é o pleno restabelecimento do nosso sagrado direito de ir e vir. Agora, apesar de também - como o jornalista – torcermos para que o “ronda” dê certo, nos custa crer, pois não conseguimos ver o “ronda” como um programa completo (em sua abrangência e conteúdo). Não pode ser um programa só para a Aldeota e outras regiões de ricos. Como fica a rua da bala no Alagadiço Novo, ali por trás da Ypioca? Também não pode o “ronda” ter sucesso se o sistema não funcionar de forma plena, ou seja, se não houver um trabalho combinando a polícia de proximidade com uma polícia de investigação, uma polícia de interpelação e uma polícia de terreno, em contato estreito com as populações. A partir do momento que você conhece bem o bairro e seus habitantes o ambiente fica diferente: a polícia se torna eficiente, os assédios podem ser menos numerosos, a segurança e a ordem públicas ganham tranqüilidade. Combinar esses três tipos de polícia não é impossível. Ora, simplesmente colocar uma dupla “cosme e damião” nas ruas com farda de estilista e de Hilux não vai garantir mais segurança ao cidadão.

Entretanto, como diz Huston Smith, no livro As Religiões do Mundo, “de quando em quando surgem gênios capazes de desenhar um círculo perfeito à mão livre; mas, a produção de rodas poderia ficar esperando por eles?” Vamos esperar que o “ronda” tenha o efeito desejado. O Jornalista bem que poderia seguir o que ensinou Thomas Hobbes: “prefiro exercitar a dúvida a colher certezas, ou afirmá-las”.

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