1. O bolsa-família é o programa do governo Lula que mais consenso produz, cruzando as respostas por quaisquer perfis do eleitor. A resposta à pergunta ("o que Lula fez de bom no governo?") que dá ao bolsa-família 43%, a estabilidade econômica 20%, a ajuda aos pobres (que poderia ser somada ao bolsa-família), 10% mostra exatamente isso. Mas isso não quer dizer que seja a principal razão de voto.
2. Estudos econométricos de causalidade mostram que a razão hipotética de se votar em Lula hoje é a questão econômica, estabilidade e crescimento. Por isso não há qualquer contradição do eleitor quando responde sobre o presidente responsável pela estabilidade econômica quando Lula tem 67% e FHC 7%. Essa resposta apenas ratifica o que as razões de causalidade demonstram. O ponto não é a bolsa-família, mas a economia. A boa economia de FHC terminou há 10 anos atrás, na crise de setembro de 1997[1].
3. Um artigo publicado pelo historiador e politólogo argentino, Natalio Botana, uns meses atrás (que o ex-blog do César Maia reproduziu um resumo), mostrava o paradoxal na América Latina entre economia e democracia. Ou seja, na América Latina, quanto melhor a economia mais autoritários ficam os governos. É a gente vê exemplos disso em nossa AL, principalmente na petrodemocracia venezuelana. Com Lula e PT é exatamente assim: o executivo manda e o legislativo se submete. O caso Renan é exemplo disso. E é isso o que o executivo quer, aqui e alhures. Um quadro econômico inverso, certamente produziria não só a queda da avaliação de Lula, como a fragilização do executivo em relação ao legislativo e aos políticos.
4. Por outro lado, a fragilização do legislativo leva o eleitor a estar cada vez mais desligado da representação política dos partidos e mais ligado aos personagens. Por isso (e por sorte para eles) não existe PT, mas Lula. O problema é que o desenho do personagem Lula, não é clonável entre os políticos destacados hoje. Nenhum deles do PT, ou fora dele é da família Lula. Ao contrário, Serra, Aécio e Alckmin, são da família FHC.
5. Desta forma a eleição presidencial de 2010, parte de duas situações: a) não há personagem sucessor; b) depende da dinâmica econômica daqui para frente. Quando surge no horizonte um crescimento de 5%, o governo vai ao orgasmo, pois sabe que é esse seu pilar de sustentação e de transferência de votos. Mas quando a crise "hipotecária" sinaliza nuvens carregadas para a economia e os índices de preços pululam, todo este quadro se desfaz.
6. E se for assim, teremos uma eleição lotérica de partida, na medida em que a memória econômica negativa passará a ser de FHC e Lula e não só de FHC, segundo governo. Esta característica estimulará o lançamento de muitas candidaturas, e um quadro eleitoral imprevisível, onde os perdedores no primeiro turno poderão ser decisivos no segundo.
7. Desta forma, a pesquisa que se tem que ficar atento é a projeção de cenários para o futuro. É mais trabalhoso e sofisticado do que pesquisas sobre o que se pensa hoje. Os bons economistas sem partidos sabem como fazer. E a metodologia -que alguns chamam de quali-quantis- está a disposição de todos os interessados de forma a combinar projeção de cenários com os fatores de peso.
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[1] A crise do final da década de 90 não foi comentada ou analisada em sua profundidade, mas foi detectada por diversos estudiosos da economia política, como, por exemplo, o politólogo e economista espanhol Ludolfo Paramio, que publicou o trabalho “Perspectivas de la izquierda en América Latina” logo depois da primeira eleição de Lula.
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