quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Pesquisa Avalia Situação de Lula

O Jornal o Estado de São Paulo publicou no último domingo os dados de uma pesquisa nacional do Instituto IPSOS avaliando a situação do Governo Lula. É preciso atentar, ao ler os resultados, que as pesquisas sempre exigem muito cuidado na análise. Há sempre uma tendência do leitor não atento de captar somente os números, sem perceber os detalhes no cotejamento dos números nas diversas situações. Há situações que funcionam como variáveis e que podem, portanto, afetar a análise, como, por exemplo, os diversos escândalos divulgados. Veja, a seguir, alguns pontos da pesquisa, com base na análise feita pelo ex-blog do César Maia:

1. O bolsa-família é o programa do governo Lula que mais consenso produz, cruzando as respostas por quaisquer perfis do eleitor. A resposta à pergunta ("o que Lula fez de bom no governo?") que dá ao bolsa-família 43%, a estabilidade econômica 20%, a ajuda aos pobres (que poderia ser somada ao bolsa-família), 10% mostra exatamente isso. Mas isso não quer dizer que seja a principal razão de voto.

2. Estudos econométricos de causalidade mostram que a razão hipotética de se votar em Lula hoje é a questão econômica, estabilidade e crescimento. Por isso não há qualquer contradição do eleitor quando responde sobre o presidente responsável pela estabilidade econômica quando Lula tem 67% e FHC 7%. Essa resposta apenas ratifica o que as razões de causalidade demonstram. O ponto não é a bolsa-família, mas a economia. A boa economia de FHC terminou há 10 anos atrás, na crise de setembro de 1997[1].

3. Um artigo publicado pelo historiador e politólogo argentino, Natalio Botana, uns meses atrás (que o ex-blog do César Maia reproduziu um resumo), mostrava o paradoxal na América Latina entre economia e democracia. Ou seja, na América Latina, quanto melhor a economia mais autoritários ficam os governos. É a gente vê exemplos disso em nossa AL, principalmente na petrodemocracia venezuelana. Com Lula e PT é exatamente assim: o executivo manda e o legislativo se submete. O caso Renan é exemplo disso. E é isso o que o executivo quer, aqui e alhures. Um quadro econômico inverso, certamente produziria não só a queda da avaliação de Lula, como a fragilização do executivo em relação ao legislativo e aos políticos.

4. Por outro lado, a fragilização do legislativo leva o eleitor a estar cada vez mais desligado da representação política dos partidos e mais ligado aos personagens. Por isso (e por sorte para eles) não existe PT, mas Lula. O problema é que o desenho do personagem Lula, não é clonável entre os políticos destacados hoje. Nenhum deles do PT, ou fora dele é da família Lula. Ao contrário, Serra, Aécio e Alckmin, são da família FHC.

5. Desta forma a eleição presidencial de 2010, parte de duas situações: a) não há personagem sucessor; b) depende da dinâmica econômica daqui para frente. Quando surge no horizonte um crescimento de 5%, o governo vai ao orgasmo, pois sabe que é esse seu pilar de sustentação e de transferência de votos. Mas quando a crise "hipotecária" sinaliza nuvens carregadas para a economia e os índices de preços pululam, todo este quadro se desfaz.

6. E se for assim, teremos uma eleição lotérica de partida, na medida em que a memória econômica negativa passará a ser de FHC e Lula e não só de FHC, segundo governo. Esta característica estimulará o lançamento de muitas candidaturas, e um quadro eleitoral imprevisível, onde os perdedores no primeiro turno poderão ser decisivos no segundo.

7. Desta forma, a pesquisa que se tem que ficar atento é a projeção de cenários para o futuro. É mais trabalhoso e sofisticado do que pesquisas sobre o que se pensa hoje. Os bons economistas sem partidos sabem como fazer. E a metodologia -que alguns chamam de quali-quantis- está a disposição de todos os interessados de forma a combinar projeção de cenários com os fatores de peso.

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[1] A crise do final da década de 90 não foi comentada ou analisada em sua profundidade, mas foi detectada por diversos estudiosos da economia política, como, por exemplo, o politólogo e economista espanhol Ludolfo Paramio, que publicou o trabalho “Perspectivas de la izquierda en América Latina” logo depois da primeira eleição de Lula.

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