quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A História Política de Uma Família - P.4.a

No capítulo que foi publicado na última segunda-feira neste blog mostramos a família Ferreira Gomes e agregados conquistando o poder político. No capítulo de hoje vamos mostrar as campanhas presidenciais de Ciro Ferreira Gomes e a volta ao Ceará. Veja, a seguir, o quarto capítulo.

A História Política de uma família - capítulo IV

A MORTE PELA BOCA
(primeiro ato)

As duas eleições do período pós-ditadura (1989 e 1994) ocorrem em clima de ambiente midiático[1]. Chega a terceira eleição (1998) e este terceiro experimento eleitoral acontece em ambiente semelhante, mas com algumas diferenças marcantes. Seria, como apontam alguns pesquisadores, o momento em que a transição parecia ter se completado. A primeira eleição pós-democratização foi marcada pela inovação e a estratégia de mídia, pelo entusiasmo, pela motivação depois de 25 anos sem votar em presidente. O pleito foi “diluído” em mais de vinte candidatos. Um dado importante é que todos se colocavam em oposição ao governo que se encerrava, de José Sarney (PMDB). Nada chega a ser surpreendente: o fracasso econômico do Plano Cruzado, com altas taxas de inflação e pífios índices de crescimento econômico, fazia com que 68% da população considerassem o governo Sarney como ruim ou péssimo (Pesquisa Datafolha de setembro de 89).

Só para marcar aquele momento importante do nosso processo de redemocratização, utilizamos a clivagem ideológica adotada por Singer[2] para agrupar os candidatos mais relevantes: esquerda: Lula, do PT; Leonel Brizola, do Partido Democrático Trabalhista; e Roberto Freire, do Partido Comunista Brasileiro. Centro: Mário Covas, do Partido da Social Democracia Brasileira (fundado a partir de uma cisão do PMDB em 1988); Ulysses Guimarães, do PMDB; e Guilherme Afif Domingos, do Partido Liberal. Direita: Paulo Maluf, do PDS; Aureliano Chaves, do Partido da Frente Liberal (fundado a partir de uma cisão do PDS em 1985); Ronaldo Caiado, da União Democrática Ruralista; e Fernando Collor de Mello, do Partido da Reconstrução Nacional. Os outros candidatos somados obtiveram menos de 3% dos votos válidos. O resultado final do primeiro turno consagrou Collor em primeiro lugar, com 30,4% dos votos válidos (mais de vinte milhões e meio de votos), e Lula em segundo, com 17,1% dos votos válidos (mais de onze milhões e meio de votos). Vale lembrar que Lula superou Brizola (o terceiro colocado) por apenas 0,6 ponto percentual (menos de quinhentos mil votos). Comparto a opinião de Singer de que a impopularidade de Sarney e de seu partido influenciaram negativamente os candidatos centristas, fazendo com que o desempenho eleitoral destes fosse sofrível (somados, os centristas tiveram apenas 20% dos votos). Assim, a eleição caminharia para o segundo turno polarizado entre esquerda (que conseguira 32,7% dos votos, com todos os candidatos somados) e direita (38% dos votos somados). Seria, portanto, o centro o fiel da balança do segundo turno, polarizado entre direita (Collor) e esquerda (Lula). Deu a direita.

A mesma direita que tanto atraiu o grupo dissidente do PMDB do Ceará, que acabou por ingressar no PSDB (centro). Àquela época, sei que nem todos lembram, Ciro, Tasso e Sérgio Machado (secretário de Governo de Tasso) eram os mais entusiastas para uma adesão ao PRN de Collor. Dezenas de reuniões foram feitas por Sérgio (no auditório da Secretaria de Planejamento, no Cambeba) com as ditas bases políticas para debater o apoio ao candidato alagoano. Uma delas (e a mais importante) foi realizada no hotel Esplanada (hoje fechado), reunindo lideranças de todo o Estado do Ceará e foi lá que Ciro e Tasso fizeram os discursos mais inflamados pró-Collor. Ciro extrapolou sua pomposa retórica para concluir fazendo uma convocação: “...agora é hora de collorir”. Choveram aplausos. A adesão só não deu certo por causa de um estranho (e até hoje não explicado) episódio ocorrido em Brasília, momentos antes da reunião em que o grupo do Ceará assinaria a ficha de ingresso no PRN (ou melhor, formalizaria a adesão à candidatura Collor de Mello). Alguns dizem que Collor não aceitou as exigências do grupo. Outros dizem que tudo ocorreu porque Collor, para evitar exigências pesadas, teria deixado vazar à imprensa o local, a hora e o nome das pessoas que iriam ingressar no partido. O encontro seria o momento da adesão e também o momento em que combinariam a versão à imprensa. Já havia, no bolso do paletó de Tasso, uma carta, com aprovo de todos, com os termos da adesão e a versão que dariam à imprensa. O vazamento irritou o grupo, que recuou e não concretizou a adesão oportunista. O silêncio caiu sobre o episódio e dias depois o grupo assinou ficha no PSDB e apoiou a candidatura de Mário Covas.

(Veja na sexta-feira a seqüência da história política da família Ferreira Gomes: Capítulo V – A MORTE PELA BOCA – segundo ato).

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[1] As eleições de 89 foram “laboratório” e marco inaugural do fenômeno do marketing político em eleições presidenciais no Brasil (o que não contestado por nenhum estudioso de comunicação ou de Ciência Política), seguindo o modelo norte-americano, ainda que com as diferenças da legislação eleitoral. Por isso, é importante destacar o papel que os meios de comunicação de massa – particularmente a televisão – passaram a ter em uma campanha eleitoral presidencial. Em um país de dimensões continentais, em muitas cidades e regiões, o horário eleitoral gratuito ainda é a única forma de contato entre o candidato e a população.

[2] André Singer, em seu trabalho “Ideologia e Economia na Decisão de 1994”, apresentado no XXII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – ANPOCS, Caxambu-MG, 27 a 31 de Outubro de 1998.

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