Já havia prometido a mim mesmo não entrar no assunto reforma
política enquanto persistir o aranzel que evidencia inegavelmente a imagem ardilosa
e sevandija do Congresso, ainda que, a toque de caixa tenha aprovado/rejeitado,
por imposição das ruas, alguns projetos. Todavia, nem o governo federal, os
governos estaduais (São Paulo foi exceção) e municipais e tampouco os poderes
legislativo e judiciário nada fizeram até agora para cortar gastos e
desperdícios. Por isso e muito mais é que, sinceramente, não dá para acreditar
que saia do atual Congresso uma reforma política ao nível do que clama o
Brasil. Até agora, o Congresso – com Renan Calheiros (PMDB-AL) presidindo o Senado e
Henrique Alves (PMDB-RN) presidindo a Câmara, como representantes, não povo ou
dos estados, mas sim de interesses mesquinhos e de grupos, ao lado de
figuras como Sarney, Jáder Barbalho, Genoíno e o irmão José Nobre Guimarães, Eunício
Oliveira, José Pimentel, Inácio Arruda, João Paulo Cunha, Balmann entre outros
do mesmo naipe – e a presidente Dilma Rousseff estão passando ao povo apenas pirulitos para
adoçar o paladar calar a boca, deixando o legado de uma terrível frustração
de consequências inimagináveis.
Preste atenção e pense se dá para acreditar em um presidente
de poder, como o deputado federal
potiguar Henrique Eduardo Alves que, em pleno período de manifestações, levou a
família e amigos para ver a final da Copa das Confederações no Maracanã em um
avião da FAB! Ora, a presidenta Dilma
não foi à final com medo das vaias. Nem o governador (Sérgio Cabral) e o
prefeito (Eduardo Paes) do Rio de Janeiro, ambos igualmente do PMDB, apareceram
para entregar as taças e medalhas aos atletas. Mas o deputado presidente da Câmara,
colocado lá por petistas, pelo aliado PMDB e por outros partidos do balcão de negócios,
foi e levou parentes e amigos. Ao pedir o avião, Alves informou que 14
passageiros poderiam viajar. Pegaram
carona com o deputado Alves sete pessoas: sua noiva, Laurita Arruda, dois
filhos e um irmão dela, o publicitário Arturo Arruda, com a mulher Larissa,
além de um filho do presidente da Câmara. Um amigo de Arturo entrou no voo de
volta. Para driblar, como Neymar, possíveis denúncias eles usaram cadeiras
destinadas a torcedores, e não às autoridades. Uma vilegiatura que custou caro aos cofres
públicos.
O deputado pediu o avião da FAB (um jato C-99) mesmo
conhecendo a proibição do decreto 4244/2002, que disciplina o uso de aviões da
FAB por autoridades: “os jatos podem ser requisitados quando houver motivo de
segurança e emergência médica, em viagens a serviço e deslocamentos para o
local de residência permanente". Alega o deputado que, através de sua
assessoria, que "solicitou" o avião porque tinha encontro com o
prefeito Eduardo Paes (PMDB), no sábado (um dia antes do jogo). “Como havia
disponibilidade de espaço na aeronave, familiares acompanharam o presidente em
seu deslocamento". Mas a alegada reunião não estava em pauta e nem na
agenda do próprio presidente e tampouco foi informada pela Câmara. Mas, ainda
assim, o magnânimo deputado potiguar admite
que errou e garante que vai pagar as passagens do pessoal que pegou carona.
Atitude que não teve o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), que levou a sogra
para passear pela Europa por conta do contribuinte.
O grave é que esse político potiguar terá papel importante
na consumação da reforma política, se houver alguma. E ele já revelou, no seu
jeito decidido de tirar vantagem, que prefere fazer um pacote de mudanças e,
depois, submetê-lo a um referendo. Há dificuldades enormes para que as novas regras
eleitorais passem a valer nas eleições do próximo ano. É difícil o consenso em
torno das questões a serem colocadas ao eleitor e muito exíguo o prazo. Alves encaminhou
os trabalhos, mas não acredita neles e, por isso, prepara o plano “b”. Já discutiu
as propostas vindas do Planalto e afirma que deu prazo de uma semana para os
partidos debaterem internamente o assunto. Caso não haja acordo em torno do
plebiscito, aí será do jeito dele, que você já percebeu como é. Um grupo de parlamentares será encarregado
de elaborar, em 90 dias, um projeto de reforma política. Essas propostas,
conforme o presidente da Câmara, podem vir a ser submetidas a um referendo
depois de aprovadas pelos congressistas. Se for por proposta, nem precisa
criar comissão ou grupo para elaborar. O Congresso tem, em seus arquivos,
vários propostas de reforma política, uma delas do ex-senador Sergio Machado
(PMDB-Renan), hoje presidente da Transpetro, que considero muito boa.
Por tudo isso, você já viu o que está sendo preparado na panela do Congresso: um couvert com algumas
medidas de austeridade – extensão do Ficha Limpa para todos os cargos e
servidores, rejeição da PEC 37, transformação da corrupção em crime hediondo,
aumento da verba para a saúde e educação (do dinheiro do pré-sal e royalties),
desoneração de impostos do material que compõem a planilha de custos dos
transportes coletivos e mais um prometido investimento em mobilidade urbana de
R$ 25 bilhões – e uma enorme pizza
como prato principal da reforma política, que servirá apenas de manto para encobrir
que nenhum enxugamento de custos e desperdícios foi feito. O exemplo foi o jato
da FAB usado pelo presidente da Câmara Federal para levar a família e amigos ao
Maracanã em plena efervescência dos manifestos. Vai ficar na boca um gosto
amargo de enganação.
Veja matéria sobre o avião da FAB usado pelo deputado no link
abaixo:
Engraçado como em nenhum momento você descreveu que a intenção maior é se fazer uma reforma onde seja convocada uma Assembleia Constituinte onde nenhum dos deputados federais e nem senadores que estejam com mandato possam interagir e por este motivo, os que forem eleitos para fazer a nova Constituinte não estejam viciados nem corrompidos pelo poder.
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