Quem analisa a política com cuidado, prestando atenção nos movimentos do tabuleiro do xadrez sucessório, vai entender que a eleição de Ilário Marques para a presidência do PT representa um claro lance de advertência à oligarquia Gomes. A prefeita sentiu o aberto aliciamento a setores do partido. Cartaxo (e Guimarães), o ex-presidente petista, estava gostando demais de ser parte do poder, o vereador Sérgio Novaes atendeu ao aceno de Ciro Gomes e assumiu um cargo na esfera federal (Companhia Docas) e mesmo a bancada do PT estava muito branda, enquanto a oligarquia abria lances mais ousados, como o movimento da senadora Patrícia ao ir para o PDT e acenar sua candidatura. Basta observar os detalhes do jogo futuro que a oligarquia e o aparelho do PT são aliados que se olham com desconfiança. A prefeita engoliu seco a pré-candidatura de Patrícia, entendendo que a senadora foi incensada por Ciro e Tasso para minar sua recandidatura, já que as duas correm quase na mesma faixa eleitoral. Aguardou o momento e deu troco desbancando o segmento do PT mais servil aos Gomes. Apoiou Ilário, que, embora simpático, tem pretensões, já cansado de ser o herói do sertão quixadaense. E, de quebra, reduziu o tamanho da vidraça e a concorrência.
A ESPADA DE DÂMOCLES
Agora, cada rei tem sua espada suspensa por um fio de crina de cavalo na cabeça um do outro, como fez o Dionísio com seu cortesão Dâmocles (século IX a.C.). Se a oligarquia ameaça minar o caminho da prefeita com Patrícia, a chefe do aparelho petista pode retirar seu partido do governo, o que produziria dificuldades internas e mesmo no Planalto. O caso é que o lance não se encerra na eleição de 5 de outubro próximo. Chega a 2010. Os oligarcas sabem que o aparelho petista dificilmente votaria em Ciro Gomes para a presidência da República, a não ser que o chefe dos Gomes fosse o candidato de Lula, o que é muito difícil (é uma aposta que o próprio Ciro faz, mas sem muita convicção). Temem ainda que a reeleição abra mais ainda o apetite da prefeita para 2010. O caminho, então, seria atrapalhar a trajetória petista em 2008, se possível sem queimar os dedos, reeditando o jogo que os coronéis (irmãos) faziam no tempo da Arena I e Arena II. Com um ou com outro, estaria tudo em casa. O busílis da questão é que há uma terceira via que se apresenta em plenas condições de melar o jogo. No tempo dos coronéis, Ciro sabe muito bem, a terceira via não tinha peso eleitoral.
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