segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O Preço da Folha de Pagamento


A venda da folha de pagamento (de governo ou de prefeitura) a banco privado já rendeu muita propina e muito caixa dois (o mesmo que o ex-ministro Zé Dirceu praticava e denunciou na revista Piauí). Em Fortaleza, resultou no denunciado escândalo do réveillon de 2006, embora só uma parte desse dinheiro tenha sido falado. Agora, é o governo de São Paulo (Zé Serra-PSDB) que faz uma operação triangular. O acerto da operação sobre a venda da milionária folha salarial de SP a banco privado foi fechado através de uma liberação de verba federal no valor de R$ 270 milhões, dinheiro que seria para a ampliação do metrô paulistano. Em troca a União recebe o dinheiro da venda da folha ao invés de só os 13%, como costuma cobrar. Desse modo, o dinheiro deu um passeio por Brasília e voltou aos cofres de SP em forma de verba para o metrô. Vivacidade tem disso, o Governo usou o próprio dinheiro de SP para o metrô e ainda legitima a cobrança de 13% que pretende fazer em todos os Estados. Hoje já existe uma disputa judicial entre o governo federal e as prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro sobre a classificação dessa receita. O Tesouro Nacional quer que o dinheiro seja incluído na base de cálculo usado para cobrança da dívida dos municípios com a União. Mas, amparadas por liminares, as prefeituras têm resistido ao pagamento.

NO CEARÁ TEM DISSO, SIM

No Ceará, recentemente foi realizada semelhante negociação, ainda que a venda do BEC para o Bradesco tenha obrigado a que a conta dos servidores permanecesse no banco comprador por 10 anos. De qualquer modo, como nunca sabemos de tudo que é mastigado nos escaninhos dos gabinetes, ninguém ficou sabendo realmente o que ocorreu. O que é fato é que venderam a conta do Estado para um banco e o dinheiro da “venda” entrou. Quanto, hein Arialdo? Esse dinheiro tende a ser legalizado em sua totalidade. O problema é que muitas vezes o preço é “x” mas só entra no tesouro “x-y”, afora o que levam as autoridades do governo federal –os 13% anunciado. Nunca houve na história deste país tanta licenciosidade e mentira com o dinheiro público. Há uma distância enorme entre o que é dito –e as vezes nem é dito– e o que é realizado. Se foi assim no que é público, como foi o caso da CPMF, imagine naquilo que é subterrâneo. Por isso, é que vemos tantos homens públicos (ou seja, que não vende e nem fabrica nada) ficarem ricos. Alguns, que chegaram a ficar anos sem emprego, são hoje milagrosamente bilionários.

BRIGA DE QUADRILHA

Você leu a revista Piauí? Não deixe de ler a matéria com o ex-ministro Zé Dirceu, o pai do mensalão (e, claro, do caixa 2). Ele entrega alguns inimigos de dentro do Governo a que serviu, o que equivale a uma confissão do que ele fazia quando era da equipe de governo. O ministro do STF deve estar exultante. O DEM está. Alguns integrantes da cúpula nacional do partido já estão trabalhando para instalar uma CPI, que os governistas, liderados pelos senadores Inácio Arruda e Ideli Salvatti vão fazer de tudo para impedir. Nunca pensei que um político forjado nos movimentos populares, como Inácio Arruda, fosse tão chegado a dinheiro. Vale a pensa ver as acusações de Dirceu ao relatar o caixa dois utilizado na construção da sede do PT-RS. Depois, ele ataca Luiz Favre, marido trambiqueiro de Marta Suplicy. Por fim, mas não menos importante, há Lulinha, o hoje também milionário filho do presidente.

VAMOS COBRAR ATITUDE DO JUDICIÁRIO

A entrevista do ex-ministro da Casa Civil é nitroglicerina pura e as autoridades competentes não devem fazer de conta que ela não existiu. Já era para alguém ter sido preso. É o que faria qualquer país sério. Dirceu agiu com instinto de vingança e acabou pegando mais gente do que imaginava e comprometendo o próprio Governo. O estouro foi tão grande que Dirceu, ex-deputado e ex-presidente do PT, já desmentiu. Disse que não disse o que disse. A vice-presidente nacional do PSDB, senadora Marisa Serrano já pegou a deixa: “É gravíssimo. Uma bomba. Não só os partidos, mas a população tem de exigir da Justiça o aprofundamento dessas informações e a verificação de sua autenticidade”. Grave também é o que ele diz ao tentar defender Delúbio (lembram dele?). Dirceu entregou todo o esquema. Disse que colegas de sigla recorriam ao ex-tesoureiro petista com pedido de até R$ 1 milhão: “a mala era para eles. O pobre do Delúbio tinha que ir aos empresários conseguir doações. Aí, estoura o mensalão, e esse pessoal vem dizer que o Delúbio era o homem da mala. O que não dizem é que a mala era para eles”, destacou o mais prestigiado ex-ministro de Lula.

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