(Compare passado e presente, à luz dos muitos escândalos que eclodiram no Governo, incluindo o atual –dos cartões corporativos).
O PASSADO: A HISTÓRIA - I
Está no sangue e está na história. Dizem que a história não se repete. É fato, mas exatamente 200 anos depois, as semelhanças são tantas que intrigam. Quando apressadamente fugiu de Portugal, a corte chegou ao Brasil colônia em 1808. O príncipe regente (D. João) trouxe entre 10 e 15 mil portugueses. “Um verdadeiro enxame de aventureiros, necessitados e sem princípios, acompanhou a família real. Os novos hóspedes do coroa (ou do governo) pouco se interessavam pela prosperidade do Brasil. Consideravam temporária a sua ausência de Portugal (ou presença no governo) e propunham-se mais a enriquecer-se à custa do Estado do que a administrar justiça ou a beneficiar o público”.[1] Como escreve Laurentino Gomes (não tem nenhum parentesco com Ciro Gomes, que faz parte da corrupta corte atual e que, durante quase uma década, foi o desempregado mais bem sucedido do Brasil), a corte portuguesa, que se homiziou no Brasil para fugir do já decadente exército napoleônico, era perdulária e voraz (como o pessoal do PT e da base aliada do Governo Lula). Pouco antes de retornar a Portugal (1821), a Ucharia Real (repartição responsável pelo abastecimento) da corte comprava 513 galinhas, pombos e perus e 90 dúzias de ovos por dia. Por ano, eram quase 200 mil aves, 33 mil dúzias de ovos, o que significavam quase R$ 50 milhões de reais.
O PRESENTE: OS FATOS – I
Hoje, o governo Lula não faz diferente. Veja os fatos. Logo depois de assumir o Governo em 2002, Lula desembarcou em Brasília com um verdadeiro enxame de petistas e aliados, necessitados e ávidos. Os 40 ministérios do governo triplicaram o número de funcionários nos gabinetes de Brasília e de outras repartições nos diversos Estados. Só no Palácio do Planalto hoje há 3,3 mil funcionários, contra 1,8 mil no governo Itamar Franco e 1,1 mil no governo FHC. A farra com o dinheiro público (da coroa) começou imediatamente e os escândalos se sucederam. Só a despesa com o gabinete presidencial (Fonte: Diário oficial da União) subiu de R$ 38,4 milhões em 1995 para R$ 318,6 milhões em 2003. Em 2002, saltou para R$ 372,8 milhões, ou seja, R$ 1,5 milhões por dia útil de trabalho. E as compras de comida e bebidas (da mesma forma que no Império) são de arrepiar: O processo de licitação de número 00140.000226/2003-67, publicado no Diário Oficial da União, previu a compra de 149 itens para o Palácio. Dentre eles constam:
- sete toneladas de açúcar;
- duas toneladas e meia de arroz;
- 400 latas de azeitona;
- 600 quilos de bombons;
- 800 latas de castanhas de caju;
- 900 latas de leite condensado...
- dois mil vidros de pimenta;
- dois mil e quinhentos rolos de papel alumínio;
- quatrocentos vidros de vinagre;
- quatrocentos e sessenta pacotes de sal grosso e ainda
- seis mil barras de chocolate.
- 22 quilos de arroz;
- 50 barras de chocolate;
- 15 vidros de pimenta...pimenta???
E a coisa vai mais longe: em outra licitação (00140.000217/2003-36), o Gabinete da Presidência comprou um pouco de tudo para beber. Entre os itens estão:
- 129 mil litros de água mineral (consumo de mais de mil litros por dia);
- duas mil latas de cerveja;
- 35 mil latas de refrigerante;
- 1344 garrafas de sucos naturais;
- 610 garrafas de vinho (consumo de cinco por dia);
- 50 garrafas de licor.
Em outra licitação (00140.000228/2003-56), foi comprado para o Palácio:
- 495 litros de suco de uva;
- 390 litros de suco de acerola;
- o mesmo tanto de suco de maracujá, laranja, tangerina e manga.
- 2.250 quilos de pó de café;
Em outra licitação (00140.000126/2003-31):
- três toneladas e meia de batata:
- duas mil dúzias de ovos;
- duas toneladas de cebola e
- uma tonelada de alho porró.
- 2400 abacaxis;
- uma tonelada e meia de banana;
- outro tanto de ameixa e ainda
- uma tonelada de caqui.
A Licitação (00140.000227/2003-10) de meios permitiu a compra de (para 120 dias):
- dez botijões de gás de dois quilos;
- 170 botijões de 13 quilos;
- 20 cilindros de 45 quilos e mais
- 45 toneladas de gás a granel.
- dois mil CDs para gravação, com as respectivas caixinhas, e
- 20 mil disquetes;
Outra licitação, a de número 00140.000143/2003-78:
- 300 colchas;
- 330 lençóis;
- 300 fronhas;
- 50 travesseiros;
- 66 cobertores (cobertor em Brasília é grave, hein?);
- 15 roupões;
- 20 jogos de toalha;
- 20 toalhas de banho e
- 120 colchões
Por isso é que para as lavanderias foram mandados em 120 dias:
- 54 toneladas - ou 13 toneladas e meia por mês, ou ainda, 450 quilos de roupa por dia.
Para melhorar o conforto, foram ainda comprados (além do que já existia no Palácio):
- dois fogões;
- duas cafeteiras;
- quarto fornos de microondas;
- quatro geladeiras;
- oito ventiladores;
- seis aparelhos de ar condicionado;
- dois bebedouros;
- sete televisores;
- dois aparelhos de CDs;
- três liquidificadores;
- uma sanduicheira;
- um frigobar.
O PASSADO: A HISTÓRIA - II
Nos treze anos que viveu no Brasil, D. João estourou todo o orçamento sustentando a voraz corte. O jeito foi criar um banco estatal para emitir moeda. Pela carta régia de outubro de 1808 foi criado o Banco do Brasil. Em 1820, o BB já estava arruinado. Só podia dispor de 20% de lastro (ouro) do dinheiro em circulação. E mesmo esses 20% em ouro e diamantes D. João VI levou em 1821 quando retornou a Portugal. O BB fechou as portas em 1829, sete anos depois da Independência. Foi recriado em 1853, já no governo do Imperador Pedro II. A segunda encarnação do BB também viveu momentos semelhantes aos de sua origem ao financiar, sem garantias, políticos, usineiros, fazendeiros quebrados e os cartões corporativos, sem o devido empenho. Realizar despesa sem empenho é grave irregularidade no setor publico. Outra herança de D. João VI, que virou escola na atualidade, foi a prática da “caixinha” nas concorrências e pagamentos dos serviços publicos[2]. Se o fornecedor interessado não pagasse os 17% os processos simplesmente não andavam, como hoje. D. João VI era um homem supersticioso, de hábitos simples e só se referia a si mesmo na terceira pessoa “Sua majestade quer passear”. Conforme Pandiá Calógeras (citação de Laurentino Gomes, p. 169), “era querido, mas também carinhosamente e tolerantemente desprezado por sua fraqueza e covardia. Com sua opinião ninguém se preocupava, e isto o levava a esconder seus sentimentos, bem como a procurar vencer adiando as soluções, lançando seus conselheiros uns contra os outros. Triunfava cansando seus adversários”. Viveu um período em que muitos perderam a cabeça e, ainda assim, deve ser descrito como um rei esperto e popular, embora sem grandes proezas e ações audaciosas na administração.
O PRESENTE: OS FATOS – II
Vários escândalos de corrupção varreram o Governo Lula e ele, tolerante e carinhosamente faz de conta que nada vê. Assim que a maracutaia é apontada, como bem analisa o professor Marcos Fernandes Gonçalves, da Fundação Getúlio Vargas, o presidente pode até afastar os responsáveis, mas passa a mão na cabeça deles, afaga-os, continua tratando-os como "bons companheiros" (e o duplo sentido, neste caso, justifica-se plenamente), o que só estende a sensação, por todos os escalões da administração pública, de que abusar está permitido -e até incentivado. A farra do cartão corporativo é apenas mais um caso de uma lista enorme, que teve seu ápice com o mensalão de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil do Governo e ainda hoje chamado de companheiro por Lula. Marcos Fernandes acrescenta com propriedade que o governo caiu em tal grau de degenerescência que o lulopetismo já nem tenta mais protestar inocência. Ao contrário: cada vez que aparece um escândalo, limita-se a gritar "eu faço, mas eles também fazem". Aliás, a frase-símbolo do atual governo é "o PT fez o que todo mundo faz", pronunciada na esquisita entrevista que Lula deu em Paris, durante o escândalo do mensalão. Mesmo que "todo mundo faça", não deveria o presidente da República ser o primeiro a exigir que os "seus" não o façam, em vez de, ao absolver "todos", dar a senha para que continuem "fazendo"? Imagine agora se Lula vivesse naquela época, onde o imperador tudo (ou quase tudo) podia! A rei não sei ainda se ele se comparou, mas já se referiu à mesa ministerial como a mesa da Santa Ceia. Te cuida JC!
Só para eu você relembre veja a fala de Lula na reunião ministerial em que ele teria dito que aquilo parecia a Santa Ceia (seria ele Jesus? E quem seria Judas?) e que os ministros ficavam um ano sem se falar. Dá para acreditar?
Clique abaixo e veja você mesmo.
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[1] John Armitage, História do Brasil, p. 32, citação de Laurentino Gomes, 1808, pp. 188-189.
[2] O registro é do historiador Oliveira Lima, citando os relatos do inglês Luccock, presente no livro 1808, de Laurentino Gomes, p. 192.